Uma obra-prima do cinema espanhol, esquecida na Netflix: o diamante escondido que você precisa ver Divulgação / Netflix

Uma obra-prima do cinema espanhol, esquecida na Netflix: o diamante escondido que você precisa ver

Toda forma de arte brota de uma fonte real, mesmo que sua expressão final esteja mergulhada na abstração ou no surreal. Um quadro, por mais distante da realidade que pareça, traduz as experiências ou visões de quem o pintou; o cinema, ainda que delirante, ancora-se em eventos que ressoam com o possível; e a literatura, com sua particularidade de tecer histórias ficcionais sobre bases concretas, constantemente atravessa o limite entre o terreno e o etéreo. Esse processo contínuo mantém o indivíduo num estado simultâneo de elevação e conexão com a realidade, seja enquanto leitor, buscando compreender os fatos que se desenrolam diante de si, ou enquanto criador, explorando meios de transmitir essas verdades em novas formas.

A arte, porém, resiste a definições simples. O talento pode ser uma bênção inexplicável, com seus frutos aparecendo mesmo quando seu detentor desconhece os mecanismos que os produzem. Em contrapartida, existem aqueles que, sem o mesmo brilho, conseguem capturar e traduzir com precisão a essência da vida ao seu redor. A injustiça da existência se reflete na arte, que nunca prometeu ser justa ou servir como ferramenta de reparação.

Baseado na obra de Javier Cercas, “O Autor” explora as fissuras emocionais e psicológicas que marcam a trajetória de um escritor em busca de relevância. A narrativa acompanha um homem comum que descobre, de maneira inesperada, um talento para manipular as pessoas ao seu redor. Essa habilidade, que à primeira vista parece inofensiva, transforma-se em um instrumento sombrio. O protagonista, interpretado com intensidade por Javier Gutiérrez, abandona seu emprego de longa data e, após um doloroso rompimento conjugal, mergulha em uma jornada obsessiva.

Isolado em um apartamento desprovido de qualquer conforto, ele encontra nas interações com os vizinhos — em especial Lola, uma zeladora solitária — o material bruto para suas criações. Com uma direção que alterna entre o humor mórbido e o suspense, a trama evolui para um território onde ética e criação artística colidem. À medida que as barreiras entre realidade e ficção se dissipam, o protagonista se envolve em um crime que acaba por selar seu destino, numa virada engenhosa que desafia as convenções narrativas.

Filme: O Autor
Diretor: Manuel Martín Cuenca
Ano: 2017
Gênero: Comédia/Drama/Suspense
Avaliaçao: 9/10 1 1
★★★★★★★★★