Um protagonista enigmático, que opera entre o caos e a precisão, transforma veículos em extensões de sua alma. Um jovem com uma deficiência auditiva, herdeiro de uma vida marcada por perdas e acidentes, encontra nos motores e na música seu próprio refúgio. Ele não é apenas um delinquente ocasional, mas alguém que carrega a habilidade e o fardo de pilotar com uma destreza que desafia a lógica. Baby escuta tudo, embora o som do mundo chegue a ele de maneira distorcida, como um lembrete constante de seu passado traumático.
O cineasta Edgar Wright molda esse personagem com maestria, criando uma figura que é ao mesmo tempo vulnerável e perigosa. O carisma de Ansel Elgort é central para dar vida a essa dualidade, oferecendo ao público um ladrão cujo coração bate no ritmo da batida musical que preenche seus ouvidos. Ao lado de Lily James, Elgort compõe uma narrativa onde o romance se entrelaça com a ação, gerando uma química que impulsiona o enredo e prende a atenção. Quando Baby e Debora cruzam caminhos, a busca por uma vida comum se torna o ponto de fuga, mas a estrada até lá está longe de ser reta.
Com habilidades excepcionais ao volante, Baby executa fugas impecáveis para a gangue de Doc, um criminoso metódico vivido por Kevin Spacey. A música, constante companheira, não é apenas trilha sonora, mas um elemento crucial que define cada movimento do protagonista. Wright orquestra perseguições de tirar o fôlego, coreografadas com precisão, onde cada nota e cada movimento se complementam. Os assaltos e fugas, conduzidos ao som de faixas cuidadosamente selecionadas, trazem uma sensação de musicalidade rara em filmes de ação.
As cenas iniciais já entregam o tom do longa: ao som de “Bellbottoms”, Baby se entrega à música enquanto os outros personagens assumem seus papéis no assalto. Jon Hamm, Eiza González e Jon Bernthal completam o elenco principal, contribuindo para a tensão e o dinamismo. Mas é nas cenas de perseguição que Wright realmente brilha, fundindo ação e ritmo com uma harmonia que poucos diretores conseguem alcançar.
Ao longo da trama, Baby se vê preso em um ciclo de crimes, lidando com a dívida que o mantém nas garras de Doc. Sua conexão com Debora representa a promessa de uma vida melhor, mas o caminho para a redenção é repleto de armadilhas. Mesmo quando o destino parece selado, Baby luta contra sua natureza e circunstâncias, buscando um equilíbrio entre o que deseja e o que precisa fazer para sobreviver.
“Em Ritmo de Fuga” reflete sobre temas universais, como destino e redenção, traçando paralelos com obras de cineastas como Nicolas Winding Refn. Embora inevitáveis, essas comparações só reforçam o mérito de Wright, que constrói sua narrativa de forma singular. O equilíbrio entre música, emoção e ação faz deste um filme marcante, onde cada detalhe, desde os sons de objetos cotidianos até as explosões sonoras da trilha, integra-se perfeitamente à história.
Por mais que Baby tente escapar, “Em Ritmo de Fuga” lembra constantemente que o passado e as escolhas feitas ao longo do caminho têm um peso inescapável. A tensão entre liberdade e responsabilidade permeia cada cena, levando a um clímax que questiona as linhas tênues entre heroísmo e criminalidade. Com um elenco robusto e uma direção que aproveita cada elemento ao máximo, a obra se destaca como um exemplo do que o cinema pode oferecer quando narrativa e técnica se unem em perfeita harmonia.
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