Gravado antes dos violentos ataques do Hamas à Faixa de Gaza em 7 de outubro de 2023, “Kissufim” lança um olhar crítico sobre uma terra marcada por décadas de conflito. Conhecido entre os locais como o Sábado Sangrento, o ataque resultou na morte imediata de 1.200 civis, deixando uma ferida aberta no cenário já instável do território, situado na costa leste do Mediterrâneo entre Egito e Israel. Em uma área de 365 quilômetros quadrados, onde a tensão permeia cada esquina, a diretora Keren Nechmad constrói uma ficção que, embora não intencional, ecoa a dor e o ódio que atravessam o interminável conflito israelo-palestino.
Nascida em Tel Aviv, Nechmad traz autenticidade ao tema. Seu roteiro, coescrito por Hadar Arazi e Yonatan Bar-Ilan, não se refere explicitamente aos ataques orquestrados por grupos extremistas islâmicos, mas o clima de hostilidade remete inevitavelmente aos horrores dos eventos passados, como o atentado de 11 de setembro. “Kissufim” explora a complexa narrativa de uma região onde a paz parece um sonho inatingível, enquanto inocentes continuam a pagar o preço de uma rivalidade que parece perpetuar-se sem resolução.
Relatar conflitos históricos em produtos culturais é sempre um desafio que envolve riscos, sobretudo em temas tão polarizados e complexos. Nechmad evita o clichê ao personificar a história, trazendo-a para 1977, ano em que Anwar Sadat tentou avançar o processo de paz árabe-israelense ao visitar Jerusalém. A diretora se afasta de questões políticas amplas para focar em Eli, uma jovem soldado interpretada por Swell Ariel Or, destacando as esperanças e o desespero vividos na comunidade agrária de Kissufim, no deserto de Negev. A fotografia de Ram Shweky enaltece os sentimentos da protagonista, transformando o filme em uma peça visualmente impactante e profundamente humana, que explora uma das muitas zonas de guerra ativas atualmente, com o Oriente Médio como cenário de um ciclo sem fim.
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