Em “Amor Invisível”, um drama delicadamente dirigido por Monty Whitebloom e Andy Delaney, acompanhamos a complexa jornada de Bess (Shannon Tarbet), uma jovem que sofre de cegueira psicogênica seletiva. Desde um trauma de infância, Bess é incapaz de enxergar sua mãe, Carolyn (Chloë Sevigny), a quem, simbolicamente, considera morta. Essa negação visual não é apenas literal; é também emocional, representando um mecanismo de defesa contra a figura autoritária e controladora que Carolyn representa.
Apesar dessa desconexão com a mãe, Bess mantém um vínculo forte e afetuoso com o pai, Murray (Matthew Broderick), que enfrenta sua própria batalha diária contra o Parkinson. Murray, embora fisicamente debilitado, oferece à filha um porto seguro emocional, em contraste com a presença opressiva de Carolyn. Para esta última, a cegueira seletiva de Bess parece uma afronta pessoal, uma espécie de retaliação silenciosa, algo que só intensifica o conflito latente entre as duas.
Bess percorreu uma longa estrada de consultas com diversos especialistas em busca de respostas para sua condição enigmática. Um deles é Farmer Smithson (Benjamin Walker), um psiquiatra peculiar, caracterizado por sua abordagem metódica e sua condição no espectro autista. Farmer, apesar de ocasionalmente exercer pressão sobre Bess, demonstra um interesse genuíno em desvelar os mistérios de sua cegueira seletiva.
Em um ponto crucial da trama, Farmer introduz um elemento inesperado: Russell (Aidan Turner), um demolidor profissional que sofre de uma depressão severa e que luta com pensamentos suic1d4s. Russell é uma figura paradoxal, pois, enquanto seu trabalho consiste em destruir estruturas físicas, ele acaba desempenhando um papel crucial na reconstrução emocional de Bess. No entanto, quando os dois se encontram pela primeira vez no consultório de Farmer, algo surpreendente ocorre: Bess não consegue vê-lo. Russell se torna, assim, apenas a segunda pessoa — além de Carolyn — a ser excluída da percepção visual de Bess.
Farmer sugere que Bess interaja com Russell como se ele fosse uma espécie de amigo imaginário. O que segue é um relacionamento peculiar, em que Russell acompanha Bess como uma sombra, ouvindo-a confidenciar seus pensamentos mais profundos sem jamais ser reconhecido. Durante esse processo, Russell desenvolve sentimentos por Bess, mas seu amor não correspondido, agravado pela incapacidade de Bess de reconhecê-lo como real, torna-se uma fonte de dor.
O filme explora com sutileza a relação entre trauma e defesa emocional. A cegueira seletiva de Bess é uma forma de autoproteção contra aqueles que têm o poder de feri-la emocionalmente. Carolyn, com seu controle sufocante, foi a primeira figura a ser banida do campo visual de Bess, e Russell, embora em um contexto totalmente diferente, também representa uma ameaça emocional. Ele simboliza o amor e a vulnerabilidade, algo assustador para uma jovem que construiu barreiras intransponíveis ao redor de si.
A ironia, porém, é que Russell, especialista em demolir estruturas, revela-se apto a ajudar Bess a desconstruir os muros que a mantêm prisioneira de seu próprio isolamento. Sua proximidade emocional e dedicação lenta, mas constantemente, desafiam as defesas de Bess, ao mesmo tempo que o amor que ele sente por ela atua como um remédio para sua própria dor. Essa simbiose transforma ambos os personagens, oferecendo-lhes uma chance de cura e redenção.
Apesar de aparentar simplicidade à primeira vista, “Amor Invisível” se revela um filme repleto de camadas e simbolismos. Ele aborda temas como a complexidade das relações familiares, o impacto duradouro do trauma e a difícil, mas necessária, abertura ao amor e à conexão humana. Whitebloom e Delaney entregam uma obra que fala ao íntimo, convidando o espectador a refletir sobre os muros que também ergue em sua própria vida.
★★★★★★★★★★