O fado homônimo interpretado por Amália Rodrigues, uma composição de Alfredo Rodrigo Duarte, dá início a uma trama que foge de convenções. “Estranha Forma de Vida”, obra de caráter ousado, Pedro Almodóvar explora a necessidade de aceitar os ciclos inevitáveis da existência, adotando o western como cenário para um drama emocional denso e violento. A história, que se desenrola em curtos 31 minutos, desvenda o turbulento vínculo entre dois homens, mesclando nuances de paixão e brutalidade.
Utilizando-se das ferramentas que o consolidaram como cineasta de renome, Almodóvar prende a atenção com sua assinatura visual vibrante, auxiliada pela fotografia expressiva de José Luis Alcaine. A narrativa segue um caminho próprio, mas é impossível ignorar suas interseções com obras consagradas do cinema. O diretor não esconde sua inspiração em “O Segredo de Brokeback Mountain”, mas constrói um relato que se diferencia pela forma como desenvolve seus protagonistas e pela tensão latente em cada cena.
Silva, um cowboy envelhecido, retorna ao remoto vilarejo de Bitter Creek e se depara com Jake, um antigo amor que agora ocupa o cargo de xerife. Os dois homens, marcados por um romance interrompido há décadas, revivem sua história em meio a um contexto de conflitos familiares e questões não resolvidas. O verdadeiro motivo do retorno de Silva se revela em momentos de suspense crescente, enquanto seu relacionamento com o filho bandido, Joe, insere novos dilemas no enredo.
Antes de mergulhar em uma atmosfera violenta, a narrativa se constrói sobre um homoerotismo sutil, intensificado pela nudez e pelas tensões íntimas. A calmaria dá lugar a um embate dramático, onde ressentimentos e desejos reprimidos vêm à tona. Em um diálogo pesado de emoção, Jake e Silva confrontam os “e se” de um futuro nunca vivido, ecoando temas universais de amor e arrependimento.
Pedro Pascal e Ethan Hawke entregam performances intensas, conferindo profundidade aos dilemas de Silva e Jake. Através de flashbacks e silêncios carregados, o filme revela as camadas de um amor que, embora breve, deixou marcas indeléveis. Com diálogos afiados e simbolismos visuais, Almodóvar prepara o terreno para uma nova fase de sua carreira, mantendo intacta sua capacidade de explorar os extremos das emoções humanas com autenticidade.
★★★★★★★★★★