Prequelas costumam despertar sentimentos mistos: a oportunidade de explorar o passado de histórias icônicas contrasta com o risco de desnecessários acréscimos ao enredo. Desde que o cinema abraçou esse formato, uma torrente de novos capítulos se juntou ao cânone, com resultados que variam entre o notável e o esquecível, dependendo da habilidade em justificar sua existência e da forma como enriquecem ou comprometem o universo narrativo.
No caso de “Jogos Vorazes: A Cantiga dos Pássaros e das Serpentes”, o desafio é revisitar o passado para dissecar os alicerces da tirania de Coriolanus Snow, o emblemático ditador de Panem. Francis Lawrence conduz o espectador para um tempo anterior à ascensão plena de Snow, revelando camadas que justificam seu cinismo e fervor autoritário. Nesse processo, o filme equilibra-se entre explicações detalhadas e momentos que deixam margem à subjetividade, exigindo do público um esforço para conectar essa nova peça ao quebra-cabeça maior.
Este quinto capítulo da franquia, que retoma a atmosfera distópica dos longas anteriores, reflete um mundo onde a sobrevivência é condicionada por uma luta brutal e espetacular, reminiscente das arenas romanas. A trama se desenrola com o roteiro de Michael Arndt e Michael Lesslie, que se mantém fiel ao tom sombrio e crítico do universo literário de Suzanne Collins. Os personagens, especialmente os tributos do Distrito 12, trazem uma carga simbólica que evoca os dramas e dilemas já familiares aos fãs da série.
Apesar de seu caráter autônomo, o filme é carregado de referências que ressoam melhor com quem já acompanha a saga. Panem, com seus distritos e a capital opressora, projeta um espelho distorcido de realidades políticas contemporâneas. Lawrence utiliza esse pano de fundo para aprofundar-se em críticas sociais, sem descuidar de uma narrativa que, embora longa, mantém o espectador imerso em cada reviravolta.
Snow, vivido por Tom Blyth, surge como uma figura complexa, entre a vulnerabilidade da juventude e a aspiração ao poder. Lucy Gray Baird, interpretada por Rachel Zegler, contrasta com a combatividade de Katniss, exibindo um charme sutil e calculado. Ambos conduzem o público por uma jornada envolvente, revelando nuances que expandem o entendimento da distopia. Ainda assim, ficam lacunas que sugerem novos desdobramentos em capítulos futuros.
★★★★★★★★★★