David Yates, renomado por seu trabalho à frente da franquia “Harry Potter” e de todos os títulos da série “Animais Fantásticos”, decide se aventurar fora do universo de J.K. Rowling. Em “Máfia da Dor”, Yates troca os cenários mágicos pelo universo sombrio da indústria farmacêutica, adaptando para o cinema o livro de Evan Hughes, que expõe práticas antiéticas envolvendo analgésicos destinados a pacientes oncológicos.
Com roteiro de Wells Tower, em sua estreia como roteirista, o longa conta a história de uma start-up farmacêutica que orquestra um esquema de suborno a médicos. Esses profissionais, em troca de comissões, prescreviam o medicamento a pacientes sem diagnóstico de câncer, aumentando gradualmente as doses e gerando dependência. O resultado? Um escândalo de proporções épicas, culminando em um julgamento que abalou as bases do setor.
No centro dessa trama está Liza Drake (Emily Blunt), uma mãe solteira que luta para sustentar sua filha, diagnosticada com uma condição neurológica. Vivendo precariamente na garagem da irmã e trabalhando como stripper, Liza se vê em um beco sem saída. É nesse momento que Pete Brenner (Chris Evans), um persuasivo vendedor de medicamentos, entra em cena com uma proposta tentadora: um emprego no ramo farmacêutico, com a promessa de um salário anual de seis dígitos.
Liza ingressa no pequeno escritório farmacêutico liderado por figuras peculiares, como o carismático Dr. Neel (Andy Garcia), e colegas excêntricos como Larkin (Jay Duplass) e Eric (Amit Shah). Inicialmente, sua experiência é repleta de rejeições e humilhações, remetendo à jornada de Jamie Randall (Jake Gyllenhaal) em “Amor e Outras Drogas”. Mas, em um golpe de sorte, Liza conquista seu primeiro cliente ao convencer o Dr. Lydell (Brian d’Arcy James) a experimentar o novo analgésico, considerado mais seguro. A partir daí, a empresa decola, transformando-se em um fenômeno em Wall Street.
Embora a narrativa se baseie em um relato verídico de Hughes, os personagens principais são fictícios. A minuciosa pesquisa do autor trouxe autenticidade aos diálogos e às dinâmicas de vendas farmacêuticas. Hughes, atuando como consultor, garantiu que o filme capturasse com precisão o espírito e as práticas do setor, elevando a fidelidade da obra.
Com performances intensas e marcantes, “Máfia da Dor” desmascara os bastidores de uma indústria construída sobre a dependência química. A ganância desenfreada levou à devastação de inúmeras vidas, alimentando uma epidemia de vícios sem precedentes. Embora o tema não seja inédito, o filme nos obriga a confrontar uma verdade incômoda: a realidade que insistimos em ignorar.
★★★★★★★★★★