Poucos atores em Hollywood têm driblado expectativas como Adam Sandler. Conhecido por comédias escrachadas, como “Gente Grande” (2010-2013) e “Cada Um Tem a Gêmea Que Merece” (2011), Sandler consolidou sua fama em papéis repetitivos que pouco fugiam do previsível. No entanto, nos últimos cinco anos, sua filmografia passou por uma guinada. Desde “Joias Brutas” (2019), dirigido pelos irmãos Safdie, até a comédia amarga “Os Meyerowitz: Família Não Se Escolhe” (2017), de Noah Baumbach, o ator tem explorado territórios dramáticos. Seu humor, outrora seu maior trunfo, tornou-se uma ferramenta para papéis mais complexos, e essa transição não poderia ser mais bem-vinda.
Essa metamorfose é reafirmada em “Arremessando Alto” (2022), de Jeremiah Zagar, e consolidada com “O Astronauta”, nova adaptação de Johan Renck. Conhecido por dirigir clipes de Madonna e episódios da série “Chernobyl” (2019), Renck transforma o romance de ficção científica de Jaroslav Kalfař, “Spaceman of Bohemia” (2017), em um estudo sobre isolamento e redenção. Na trama, Sandler interpreta um homem que, ao escolher uma missão impossível, enfrenta os destroços emocionais que deixou para trás. Durante seis meses, ele flutua entre a Terra e o vazio cósmico, questionando se ainda terá um lar ao retornar.
Conquistar a grandeza cobra um preço. A humanidade vive à procura de sentido, buscando beleza até no trágico, mas nem sempre percebe que o grotesco e o sublime são duas faces da mesma moeda. O protagonista, Jakub Prochazka, tenta escapar do caos terrestre, apenas para ser confrontado por seus próprios fantasmas. Seja a relação tóxica com seu pai, seja o casamento fragilizado com Lenka, interpretada por Carey Mulligan, o passado de Jakub pesa tanto quanto a gravidade que ele deixou para trás.
No entanto, a única companhia sincera de Jakub é Hanus, uma aranha gigantesca e falante, dublada por Paul Dano, que atua como uma espécie de consciência brutalmente honesta. Em meio ao absurdo, a criatura oferece reflexões pontuais sobre a condição humana, deixando claro que a solidão de Jakub é mais escolha do que destino. A relação peculiar entre os dois é o coração da narrativa, proporcionando momentos tanto cômicos quanto devastadores.
À medida que Jakub enfrenta seu retorno à Terra, o filme explora a fragilidade dos heróis. É fácil encontrar glória no vazio do espaço, mas a verdadeira batalha se desenrola no reencontro com a vida que ele tentou escapar. Ainda que sua jornada termine com o corpo intacto, as cicatrizes emocionais permanecem, lembrando que ser herói, em um mundo imperfeito, é tarefa para poucos.
★★★★★★★★★★