Não é de hoje que o câncer se tornou glamour. Filmes como “A Culpa é das Estrelas” (2014) e “Um Amor para Recordar” (2002) são exemplos de que o tema já faz sucesso há bastante tempo e definitivamente ainda não saiu de moda. Em “Todo Tempo Que Temos” (2024), a premissa não é muito diferente do habitual: um homem e uma mulher se conhecem de forma inusitada, se apaixonam de forma arrebatadora e descobrem que um deles enfrenta uma doença terminal.
No início, a história nos apresenta a Almut (Florence Pugh) e Tobias (Andrew Garfield). Almut é uma chefe de cozinha que vive em uma casa afastada, cercada de animais e natureza. Tobias, por sua vez, é conhecido por trabalhar em uma famosa empresa de cereais matinais e enfrenta um doloroso divórcio.
Quando está voltando do mercado, no meio da noite, Tobias é acidentalmente atropelado por Almut, que o leva para o hospital. Depois de se conhecerem oficialmente, Almut e Tobias começam a se aproximar cada vez mais e logo iniciam um relacionamento. O que não esperavam é que Almut seria diagnosticada com câncer terminal nos ovários.
Dentro do relacionamento dos dois, sem dúvida, o tempo é o principal elemento da relação. A forma com que a narrativa se elabora diante da tela é, inclusive, completamente desordenada cronologicamente, nos fazendo entender a mesma história a partir de diferentes contextos e momentos da vida do casal. Após algum tempo juntos, Tobias e Almut decidem ter uma filha. Almut, inicialmente, não queria ser mãe, mas, após algumas discussões, Tobias consegue convencê-la.
Tendo em vista um mercado cinematográfico saturado de comédias românticas clichês e finais felizes, “Todo Tempo que Temos” consegue se aproximar da realidade e criar um filme um pouco diferente da estética norte-americana. Enquanto a maior parte dos filmes hollywoodianos concebe planos curtos e uma quantidade maior de inserções narrativas ao longo do enredo, o longa de John Crowley prefere conservar os planos longos e uma fotografia mais intimista. A baixa luminosidade e o ambiente aconchegante da casa dos personagens, do restaurante de Almut e até de um banheiro qualquer de um posto de gasolina fazem com que a história se torne mais próxima do público.
É praticamente impossível não se identificar, pelo menos uma vez, com as brigas, discordâncias, momentos bons e ruins e até com as risadas e lágrimas que percorrem a história do casal. As atuações precisas e assertivas de Florence Pugh e Andrew Garfield tornam tudo ainda mais verossímil.
“Todo Tempo que Temos” é um retrato sincero da vida a dois que nos proporciona uma profunda reflexão sobre o tempo e nos inquieta com algumas perguntas: Quanto tempo nos resta? Será que serei lembrada? Com quem quero passar o resto da minha vida? Mesmo sem nenhuma resposta definitiva, no final da história, a única certeza que temos é que não podemos prever tudo. O que vivemos hoje é tudo o que temos.
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