“O Dublê” é entretenimento puro, feito por quem entende do riscado. David Leitch começou em Hollywood colocando-se como anteparo dos atores nas cenas mais arriscadas, exatamente o que faz Colt Seavers, o protagonista vivido por Ryan Gosling, esse novo Clint Eastwood, com a vantagem de ser um ator muito mais versátil do que o veterano, sinônimo de cinema desde sempre. Leitch é um caso bem-sucedido de profissional de Hollywood que soube migrar de uma carreira subalterna e quase invisível — e por isso mesmo digna da homenagem contida neste trabalho — para um posto de comando que exige responsabilidade e disciplina incessantes, o que acabou dando em filmes despretensiosos, mas que cumprem aquilo a que se propõem, casos de “Trem-Bala” (2022) e “Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw” (2019). Em “O Dublê”, o casamento de Leitch e Gosling frutifica num história frenética e absurda, sem tantas firulas estéticas (ainda que haja lances que encham os olhos) e, mais uma vez, preocupado em sublinhar a dura vida desses sujeitos que voam pelos ares, levam tiros, facadas, escapam por um triz de bombas e… são apagados no corte final.
Colt despenca do último andar para o átrio de um arranha-céu e um erro de cálculo faz com que se choque violentamente contra o chão. Dezoito meses mais tarde, ele defende uns trocados como manobrista de uma lanchonete na periferia de Los Angeles, até que Gail Meyer, uma das produtoras que trabalham com Jody Moreno, descobre seu telefone, liga para ele e o convence a voltar, frisando que este era um pedido da chefe. Em cenas que primam pela sutileza, os roteiristas Glen A. Larson e Drew Pearce pontuam um romancezinho entre Colt e Jody, que o esqueceu por completo.
As excelentes interações de Gosling e Hannah Waddingham preparam o terreno para o que virá no momento em que Emily Blunt assumir de vez as rédeas do filme e do filme dentro do filme, em torno do qual muito de “O Dublê” gira, na pele de uma megera insensível. Tudo ao som de “I Was Made for Lovin’ You” (1979), a baladinha dançante do Kiss, outro dos indeléveis sinais de que Leitch queria mesmo conferir uma aura pop a esta comédia romântica de ação, lembrando-nos dos bons tempos em que Hollywood dependia menos da computação gráfica.
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