Grandes cineastas, ao longo das décadas, dedicaram-se a retratar as recordações mais marcantes — sejam elas ternas ou pungentes — de indivíduos que ainda percorrem o delicado processo de amadurecimento. Ingmar Bergman, com sua obra-prima “Fanny e Alexander” (1982), e Federico Fellini, no nostálgico “Amarcord” (1973), examinaram esses temas com profundidade, assim como Luca Guadagnino e Paolo Sorrentino em produções mais recentes.
Seguindo essa tradição, Tim Burton oferece uma releitura visual do romance de Ransom Riggs, “O Lar das Crianças Peculiares”. Aqui, o diretor explora o universo de Jacob Portman, um jovem que, marcado por uma perda devastadora, embarca em uma jornada que mescla dor e maravilhamento. Sob a escrita habilidosa de Jane Goldman, o roteiro foca nas descobertas de Jacob após a morte de seu avô, revelando segredos que permanecem ocultos há quase oito décadas.
Essa trama reflete o impacto das experiências extremas que obrigam os jovens a amadurecerem antes do tempo, preservando, no entanto, um resquício de ingenuidade que suaviza até mesmo os momentos mais áridos. Jacob, apesar de sua juventude, já lida com perdas que o forçam a confrontar as duras realidades da vida, sem abrir mão de sua curiosidade e vulnerabilidade. Asa Butterfield interpreta o protagonista com profundidade, oscilando entre a melancolia e uma alegria que transborda em momentos raros, mas genuínos.
Sob o olhar detalhista de Burton, o espectador é transportado para um mundo onde a fantasia é inseparável da realidade. Portais mágicos, criaturas invisíveis e perigos ocultos nas sombras compõem o pano de fundo dessa história, que culmina em uma revelação sobre o significado do título. Em sua essência, a narrativa de Jacob é sobre resiliência e autodescoberta, desdobrando-se em uma viagem que ecoa as reflexões atemporais de Ralph Waldo Emerson.
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