Que a vida é um jogo todos sabemos. Há fadas, cavaleiros, mártires, bruxos, figuras mais ou menos aparentadas com o que chamamos de mundo real, uma sucessão de delírios muitas vezes mais fantasiosos do que a imaginação recomenda. No entanto, ninguém precisa ser fã de histórias de criaturas de outras dimensões para entender nem gostar de “Anjos da Noite: A Rebelião”, a prequela por meio da qual Patrick Tatopoulos conta a origem do conflito entre vampiros e lobisomens, que é o que interessa aqui. Monstros, esses seres do desconhecido, associados ao pânico e ao sobrenatural, têm sido a matéria-prima de lendas e histórias como essa, com ameaças ao estabelecido e à própria natureza humana, açulando nossos instintos. O segredo de “Anjos da Noite: A Rebelião” é crer fielmente nisso, e deixar claro que até entre eles há classes e privilegiados. Qualquer pode identificar-se com uma história como essa.
São numerosos os registros de criaturas sobrenaturais que deixam seus túmulos quando ninguém vê e zanzam pelas cidades como se ainda estivessem vivas. Os zumbis habitam a literatura fantástica desde pelo menos a Idade Média (476-1453), quando também se popularizaram relatos sobre bruxas e vampiros. Há quem diga que rituais de feitiço praticados em países da América Central, como o Haiti, seriam capazes de fazer os mortos voltarem à vida, e existe quem defenda que essa conversa toda é mero delírio ou, pior, grosso preconceito.
São legítimas todas as reprimendas à indústria cultural e sua vocação implacável quanto a fazer tábula rasa de tradições as mais diversas, sobretudo as sem nenhuma base histórica mais firme e, o principal, de terras assoladas por pobreza e obscurantismo, mas há que se reconhecer também que tais ideias só prosperam devido a uma certa curiosidade mórbida do público, fenômeno que Hollywood catalisa como ninguém.
Centenas de anos antes dos eventos dos primeiros filmes, Lucian, interpretado por Michael Sheen, um lobo e líder rebelde dos Lycans, anseia por liberdade, e para isso precisa encarar aristocráticos vampiros. Lucian e Sonja, a filha do líder Viktor, de Bill Nighy, apaixonam-se e esse romance é central para a revolta dos lycans, o grupo de Lucian, escravizados, usados como bestas para batalhas cruéis, mas Lucian se rebela. O caso proibido entre Lucian e Sonja, aliada à luta pela liberdade, torna-se um dos principais motivadores para a revolução.
Tatopoulos explora tópicos a exemplo de lealdade e traição, inclinando-se a defender a ideia de confronto entre os poderosos e os de baixo, mantendo a atmosfera sombria e gótica que caracteriza a franquia. A direção de Tatopoulos, que também trabalhou nos efeitos especiais, conferiu roupagem mais épica, com cenários grandiosos e batalhas de proporções maiores, além de um foco maior na mitologia dos lycans.
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