Uma família sobrevive às chagas do alcoolismo e dois irmãos passam como vultos por uma sociedade que não consegue enxergá-los e apenas os tolera. O amor pelas artes marciais mistas — manifesto por um; secreto, para o outro — os une, e assim eles vão ganhando a vida, cada qual numa parte da América, se ferindo, moldando o corpo e a alma na disciplina de um esporte bestial, até que o destino os põe outra vez juntos, cara a cara. “Guerreiro”, um drama de família que mistura sangue, suor, lágrimas e uma dose generosa de esperança triste, se aproxima de “Rocky, um Lutador” (1976), o clássico de John G. Avildsen (1935-2017) estrelado por Sylvester Stallone, enquanto também anda com suas próprias pernas ao buscar possíveis respostas para o trauma de seus protagonistas, momento em que desponta a figura do pai, agora recuperado da doença que mudou a sorte de todos. O diretor e os corroteiristas Cliff Dorfman e Anthony Tambakis encadeiam bem-coreografadas sequências de lutas com as revelações tardias desses três homens, e o espectador tem a árdua tarefa de julgar quem estaria certo, torcendo por eles igualmente.
Tommy Conlon, um fuzileiro naval que voltou há pouco de uma das muitas guerras no Oriente Médio, bate à porta do pai, Paddy, depois de anos. Tommy fora morar com a mãe na Califórnia quando do divórcio, e com sua morte ele tem se sentido perigosamente só, uma chance de ouro de reestreitar os laços com o velho, agora prestes a celebrar o milésimo dia de sobriedade. No tempo adequado, O’Connor explica que Brendan, o outro filho, um professor de física do ensino médio, não consegue mais pagar a hipoteca da casa onde mora com a esposa, Tess, vivida por Jennifer Morrison, e os dois filhos pequenos do casal, e precisa arrumar um modo de ganhar esse dinheiro, e aí é que entra o pulo do gato da história, diante da revelação de que Brendan tem se preparado em segredo para um campeonato semiprofissional — o que implica em ter dar aula com o rosto desfigurado e em demissão.
Não chega a ser uma surpresa quando Tommy, que já frequentava uma academia de bairro, também inscreve-se no torneio e, claro, quando os irmãos finalmente encaram-se na disputa que paga o prêmio ao vencedor. De qualquer forma, Tom Hardy e Joel Edgerton, mediados por Nick Nolte, dão seu show, nas cenas em que aparecem defendendo seus personagens sozinhos ou no mesmo plano, e desafiando quem assiste a tomar partido de um ou outro, malgrado ambos mereçam a vitória. Ainda que, sem saber, os dois já tenham chegado lá.
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