O repórter investigativo Robert Graysmith desempenhou um papel central na cobertura dos assassinatos em série cometidos pelo infame assassino conhecido como Zodíaco entre as décadas de 1960 e 1970. O serial killer, que jamais foi identificado ou levado à justiça, deixou um rastro de terror em São Francisco e arredores. O filme “Zodíaco”, dirigido por David Fincher e lançado em 2007, é baseado no livro homônimo de Graysmith, que documenta os crimes e as exaustivas investigações conduzidas na tentativa de desvendar a identidade e localização do assassino.
Conhecido por sua habilidade em explorar o gênero thriller com inteligência, estilo e profundidade, Fincher constrói em “Zodíaco” um retrato fascinante e sombrio da caçada ao criminoso. O caso do Zodíaco é excepcional, pois, diferentemente da maioria dos serial killers que acabam sendo identificados e capturados, ele jamais foi descoberto. Assassinatos em série normalmente provocam grande comoção social, levando as autoridades a mobilizar recursos significativos para impedir novos ataques e controlar o pânico público. Isso faz com que as investigações desses crimes sejam tratadas com urgência e prioridade, sobretudo pela pressão da mídia em ver uma resolução rápida e eficaz.
No entanto, o caso do Zodíaco se mostrou uma exceção à regra. Embora esforços monumentais tenham sido empregados na tentativa de capturá-lo, incluindo equipes especializadas e recursos financeiros substanciais, o assassino soube ocultar habilmente suas pegadas, frustrando as autoridades a cada etapa. Diversos suspeitos promissores foram identificados e investigados, mas todos acabaram eliminados como culpados devido à falta de evidências conclusivas, seja em exames de caligrafia, testes de DNA, ou reconhecimento por características físicas. A trama de Fincher se inicia em 1969, quando um casal de jovens é brutalmente atacado em uma área isolada, popular entre casais que buscavam privacidade. Dias após o ataque, uma carta criptografada é enviada aos principais jornais de São Francisco. Nessa carta, o autor autodenomina-se Zodíaco e desafia as autoridades a decifrar o enigma para chegar à sua identidade.
À medida que novos crimes são cometidos, o Zodíaco envia mais cartas a diferentes veículos de comunicação, sugerindo seus próximos alvos e criando um clima de pavor generalizado. Fincher constrói o filme em torno de uma tríade de personagens obcecados pelo caso: o jornalista Paul Avery (Robert Downey Jr.), o cartunista e repórter Robert Graysmith (Jake Gyllenhaal) e o detetive David Toschi (Mark Ruffalo). Com o tempo, todos os três mergulham em uma complexa rede de pistas, padrões e teorias em torno dos crimes, investindo anos de suas vidas na busca incansável pela identidade do Zodíaco.
As sucessivas frustrações tornam a busca um verdadeiro tormento para os envolvidos, já que cada pista parece levar a um beco sem saída. Com uma atmosfera densa e sombria, “Zodíaco” evoca o ambiente vintage da época, retratando fielmente o cenário dos anos 1970 e a tensão crescente em torno do caso. O filme não oferece respostas definitivas sobre a identidade do assassino — uma incerteza que persiste até hoje, já que ainda se especula sobre quem seria o verdadeiro Zodíaco. Contudo, Fincher consegue capturar o fascínio e o terror provocados por uma das investigações criminais mais icônicas e intrigantes da história.
Ao longo do filme, a narrativa explora não apenas a perseguição ao Zodíaco, mas também as consequências emocionais para aqueles que se dedicaram a resolver o mistério. A obsessão pela identidade do assassino corrói lentamente cada um dos personagens, afetando suas vidas pessoais e profissionais. A busca interminável e frustrante impõe um preço alto, sobretudo a Graysmith, que vê sua vida ser completamente absorvida pelo caso. Ao se aprofundar na mente doentia do Zodíaco, o filme toca em temas como a sede de notoriedade do assassino e a batalha de inteligência que ele impõe aos investigadores, que, ao mesmo tempo que querem proteger a sociedade, são atraídos pela complexidade do enigma deixado pelo criminoso.
David Fincher utiliza o estilo visual característico de sua filmografia para criar um ambiente opressor e envolvente, com uma fotografia em tons sombrios e uma atenção meticulosa aos detalhes de época, capturando a paranoia que permeava a Califórnia à época dos assassinatos. Em meio a uma trilha sonora tensa e uma direção de arte cuidadosamente elaborada, o público é transportado para o clima de medo e incerteza que dominava aqueles tempos, intensificando o efeito psicológico do filme.
★★★★★★★★★★