O filme “Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw” se destaca como uma produção à parte dentro do universo da franquia “Velozes e Furiosos”. Dirigido por David Leitch, esse spin-off explora um território próprio, situado entre os eventos de “Velozes e Furiosos 8” (2017), de F. Gary Gray, e “Velozes e Furiosos 9” (2021), de Justin Lin. Fugindo das convenções rígidas estabelecidas ao longo dos mais de vinte anos de franquia, Leitch tem a liberdade de aprofundar as nuances dos personagens, sem se prender aos padrões tradicionais da série. Isso lhe permite explorar questões morais complexas por meio de diálogos recheados de ironias e trocadilhos, criados pelos roteiristas Chris Morgan, Drew Pearce e Gary Scott Thompson. O tom humorado e, por vezes, inesperado dessas interações torna a dinâmica entre os protagonistas — dois homens durões que hesitam em confiar um no outro, mas precisam superar suas diferenças pelo bem maior — um dos pontos altos da trama.
Enquanto em “Velozes e Furiosos 9” vemos Dominic Toretto, interpretado por Vin Diesel, lutando para reconquistar seu espaço e lidando com imprevistos em uma corrida repleta de adversidades, “Hobbs & Shaw” oferece uma abordagem diferente. Aqui, Jason Statham e Dwayne Johnson trazem para a tela uma química que vai além da ação desenfreada e dos tradicionais duelos motorizados da franquia. Mesmo sendo um “filme pipoca” repleto de cenas espetaculares, “Hobbs & Shaw” surpreende com toques de filosofia e temas reflexivos que dão uma profundidade inesperada à narrativa. Assim como Justin Lin consegue quebrar expectativas em “Velozes e Furiosos 9”, desafiando o público e os críticos com um enredo meticuloso e confrontos automobilísticos em que nem sempre há um vencedor evidente, Statham e Johnson, nos papéis de Deckard Shaw e Luke Hobbs, subvertem os clichês e adicionam uma camada de método em meio ao caos aparente.
O filme ainda traz referências a outras obras culturais de peso, como “Blade Runner 2049” (2017), de Denis Villeneuve, que, com seu estilo introspectivo e visual imponente, reverbera três décadas após o lançamento do original “Blade Runner” (1982), de Ridley Scott. Essa conexão sutil evidencia que “Hobbs & Shaw” não é apenas um produto de ação, mas também uma narrativa que reflete os contextos sociais e políticos de seu tempo. A obra se adapta e se transforma ao longo dos anos, adquirindo nova relevância para o público atual, sem, no entanto, anular a importância de seus predecessores.
Com as participações marcantes de Idris Elba e Vanessa Kirby, que se juntam ao elenco principal em cenas que mesclam ação estilizada e momentos quase apocalípticos, “Velozes e Furiosos: Hobbs & Shaw” se consolida como uma produção diferenciada dentro do universo da franquia. Este é, sem dúvida, um “Velozes e Furiosos” que traz algo de novo e que não se limita a replicar fórmulas consagradas.
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