Ficção científica com Tom Cruise, que arrecadou 1,4 bilhão de reais nas bilheterias, está na Netflix Divulgação / Universal Pictures

Ficção científica com Tom Cruise, que arrecadou 1,4 bilhão de reais nas bilheterias, está na Netflix

A trajetória humana é marcada pela luta constante em provar seu valor e defender quem acredita ser, tarefa que não vem sem preço. Nossa vida se desenrola num cenário onde o medo do fracasso paira sobre cada escolha, e sabemos que algum dia tudo será colocado à prova — tanto o que fizemos quanto o que evitamos.

Tomados por dúvidas e incertezas, raramente conseguimos decisões certeiras; o futuro, com suas surpresas e desafios, torna-se um campo de angústia e receio. Essa inquietude gera uma paranoia latente, um eterno confronto entre forças opostas, onde o bem e o mal se entrelaçam em um ciclo incessante de sentimentos contraditórios, numa alternância de sensações que desafia a sanidade.

Quando se busca especular sobre o amanhã, abraça-se uma premissa fluida e maleável, capaz de abarcar as suposições mais extraordinárias. Não temos a mínima noção de como será nossa realidade em cenários extremos, nos quais a escassez de recursos essenciais — como a água ou o oxigênio, que cada vez mais se torna uma mistura poluída e perigosa — ameaça a sobrevivência humana.

O diretor Joseph Kosinski, em seu filme “Oblivion”, explora essa visão distópica, ecoando o pensamento do filósofo Miguel de Unamuno, que dizia ser essencial esquecer para que a vida seja suportável, sugerindo que a humanidade prospera apenas ao selecionar e ignorar as memórias dolorosas. “Oblivion” aprofunda-se na ideia de apagões de memória, usando uma estética visual que torna o tempo narrativo fluido, como se os personagens realmente vagassem por um vazio onde as lembranças se dissipam.

Desde os primeiros instantes, o filme sugere o nascimento de uma nova humanidade após uma devastadora invasão alienígena que transformou o planeta em um deserto de cinzas e fogo. O roteiro de Kosinski, junto com Karl Gajdusek e Michael Arndt, acompanha Jack Harper e Victoria Olsen — interpretados por Tom Cruise e Andrea Riseborough —, que, em uma nave com design peculiar, parecem figuras seminais, quase simbólicas, destinadas a fecundar as profundezas do cosmos com uma última centelha da raça humana.

Eles são remanescentes de uma população que sobreviveu ao apocalipse de 2017, quando alienígenas invisíveis — longe de serem amistosos homenzinhos verdes — dizimaram a Terra. Seis décadas depois, os sobreviventes, exilados na lua Titã de Saturno, aceitam seu papel como subordinados a uma civilização intergaláctica misteriosa, em um universo que virou uma prisão silenciosa e hostil.

Kosinski tenta construir um filme introspectivo, mas a narrativa acaba prejudicada por problemas semânticos e contradições de enredo. Em um contexto de extrema privação, por exemplo, é incoerente que Harper possa desfrutar de longos banhos, mesmo que sem cenas de nudez gratuita. Outro ponto que perde profundidade é o encontro com Julia, vivida por Olga Kurylenko: a relação entre os dois fica confusa e pouco desenvolvida, limitando-se a visões oníricas e a uma promessa de retorno a uma Terra esquecida.

Personagens como Beech e Sally, interpretados por Morgan Freeman e Melissa Leo, pouco acrescentam, servindo apenas como pontuações vagas no caos da trama. Dessa forma, “Oblivion” revela um apocalipse que, embora visualmente intrigante, acaba disperso e inacabado em termos narrativos, perdendo a chance de ser uma reflexão mais sólida sobre a sobrevivência e a essência da humanidade.

Filme: Oblivion
Diretor: Joseph Kosinski
Ano: 2013
Gênero: Ação/Ficção Científica
Avaliaçao: 7/10 1 1
★★★★★★★★★★