As forças mais sombrias e enigmáticas influenciam a trajetória de cada ser humano, desde o instante em que despertamos para a realidade até o nosso fim inevitável. Se não nos transformamos em criaturas que encarnam os aspectos mais obscuros de nossa essência, é porque buscamos, com auxílio de uma entidade superior — cujo nome varia conforme a cultura — implementar medidas que nos proporcionem alguma ordem em meio ao caos que permeia a existência. É desnecessário ressaltar que alguns indivíduos escapam das expectativas comuns, e é sobre esses personagens que “Ladrões” se debruça em grande parte de sua narrativa.
Desde o início da sétima arte, esses tipos têm cativado e repelido o público, frequentemente adornados por um glamour que torna suas vidas aparentemente atraentes. John Luessenhop, ao longo do filme, reforça essa abordagem habitual, exaltando o apelo dos criminosos que, de alguma forma, conseguem evocar aceitação e prazer no espectador, ao mesmo tempo em que introduz a figura da lei, representada por policiais incomodados com o desenrolar dos eventos.
O roteiro, elaborado por Luessenhop e um grupo de colaboradores, traça um caminho pelo submundo de Los Angeles, iniciando pela máfia haitiana, que o diretor utiliza para ilustrar de forma rápida e eficaz o que ocorre na Cidade dos Anjos, muitas vezes ignorado ou retratado de maneira superficial, gerando a impressão de um paraíso em ruínas ou uma sociedade moralmente corroída. À medida que a narrativa se desenvolve, nota-se uma tentativa de emular o estilo de Michael Mann, um dos grandes nomes do gênero, que possui um talento singular para tecer tramas que valorizam o realismo e a contenção, oferecendo um fluxo mais natural e próximo da experiência do público. Mann, que completará oitenta anos em 5 de fevereiro, explora a complexa relação entre o bem e o mal, sugerindo, com precisão, que um conceito não existe sem o outro, até que a verdade emerge, revelando a essência das situações, como exemplificado em “Inimigos Públicos” (2009) e “Fogo contra Fogo” (1995).
No entanto, Luessenhop opera em uma frequência distinta. Os audaciosos protagonistas de “Ladrões” conseguem escapar da prisão mesmo após longos períodos de busca implacável por parte do Departamento de Polícia de Los Angeles, representado pelo detetive Jack Welles, interpretado por Matt Dillon, e seu parceiro Eddie Hatcher, vivido por Jay Hernandez. Os dois são encarregados de finalmente desmantelar a quadrilha liderada por Gordon Cozier, interpretado por Idris Elba, que também demonstra estar cansado da vida criminosa e planeja uma aposentadoria luxuosa ao roubar vinte milhões de dólares do banco mais seguro da Califórnia. A atmosfera de que nada irá interromper seus planos, enquanto a gangue — que inclui o astuto John Rahway, interpretado por Paul Walker, e o destemido Jesse Attica, vivido por Chris Brown — parece próxima de conseguir mais uma vez escapar com a fortuna, permeia toda a trama, até que, em um momento final, são confrontados por uma solução deus ex machina um tanto quanto artificial.
O filme, como esperado, apresenta cenas que buscam acrescentar valor dramático, como quando o diretor se esforça para oferecer um aprofundamento ao personagem de Elba, incluindo a talentosa Marianne Jean-Baptiste no papel de Naomi, sua irmã viciada. No entanto, essa subtrama acaba perdendo força ao longo do percurso. Em suma, “Ladrões” se configura como uma escolha interessante para os amantes do gênero, especialmente aqueles que têm um conhecimento cinematográfico sólido e conseguem apreciar as incongruências propostas por Luessenhop.
★★★★★★★★★★