Uma homenagem a Clint Eastwood: o filme de Liam Neeson que liderou as bilheterias mundiais em seu fim de semana de estreia chegou à Netflix Divulgação / Open Road Entertainment

Uma homenagem a Clint Eastwood: o filme de Liam Neeson que liderou as bilheterias mundiais em seu fim de semana de estreia chegou à Netflix

Em “O Sonho de um Homem Ridículo”, conto lançado por Dostoiévski em 1877, o autor nos leva à jornada de um homem desiludido, entregue à amargura e sem propósito, cuja presença é tão irrelevante que nem mesmo seu nome é mencionado. Este protagonista perambula pelas frias e sombrias ruas de São Petersburgo, imerso em um inverno impiedoso que espelha seu próprio estado de espírito. Dominado por pensamentos de morte e futilidade, ele se considera insignificante, tanto aos olhos dos outros quanto aos seus próprios, reduzido a um ser à deriva em sua própria existência.

Hollywood construiu parte de sua história explorando figuras moralmente complexas e de caráter firme, muitas vezes encarnadas por intérpretes como Liam Neeson, cuja trajetória exemplifica o sucesso de personagens assim em produções como “Na Mira do Perigo”. Neeson se sobressai ao representar homens que transitam entre a dureza e uma integridade rara, destoando em um mundo que cede facilmente às convenções do politicamente correto, uma imposição que até ele, em momentos, parece resistir. Sua atuação traz à tona valores essenciais, colocando em foco aspectos muitas vezes escassos na sociedade contemporânea.

O amor, em sua essência, é uma decisão profundamente sensata. Ainda que dependa de reciprocidade, ele revela facetas inesperadas da existência humana, mesmo diante do fracasso. Amar e aceitar ser amado exige perspicácia, agilidade mental e a capacidade de enfrentar os desafios que surgem quando duas pessoas se colocam à prova, numa sucessão de gestos que apontam para uma sinceridade inabalável. Assim, o amor se torna uma espécie de exercício de honestidade e disposição para o compromisso, um teste que nos força a confrontar as verdades sobre nós mesmos e sobre o outro.

O filme de Robert Lorenz explora essa temática ao retratar a improvável relação entre James Hanson, um ex-fuzileiro e veterano da Guerra do Vietnã, que agora vive tranquilamente no Arizona, e Miguel, um garoto mexicano em fuga dos coiotes após a morte de sua mãe durante uma travessia ilegal. Essa conexão inesperada permite a Lorenz abordar temas delicados de forma sensível, construindo uma narrativa que ultrapassa barreiras culturais e emocionais com sinceridade.

Lorenz traz consigo uma bagagem como produtor de filmes icônicos como “Menina de Ouro” e “Gran Torino”, ambos de Clint Eastwood, com quem também trabalhou em “Curvas da Vida”. Sua direção em “Na Mira do Perigo” carrega uma herança desse estilo sólido e direto, embora o roteiro, assinado em conjunto com Chris Charles e Danny Kravitz, se sustente especialmente pelo foco no relacionamento entre Neeson e Jacob Perez, que, em uma cena final marcante, evidencia o talento de Perez ao enfrentar a solidão de seu personagem. Como Jim, que se resigna a um futuro solitário, mas com a gratidão de quem sabe ter seguido o caminho correto.


Filme: Na Mira do Perigo 
Direção: Robert Lorenz
Ano: 2021
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10