Thriller de horror é segundo filme mais assistido da Netflix, atualmente, em 92 países Divulgação / Netflix

Thriller de horror é segundo filme mais assistido da Netflix, atualmente, em 92 países

Quando uma mãe perde um bebê durante a gravidez ou logo após o nascimento, o próximo filho costuma ser chamado de “bebê arco-íris”, pois surge como uma nova esperança após uma perda devastadora. Esse termo geralmente se refere aos filhos que chegam após uma experiência de luto tão dolorosa, trazendo uma nova luz ao coração dos pais. Entretanto, o conceito de “arco-íris” também pode ser aplicado a situações em que a perda ocorre mais tarde, como na infância ou adolescência. Nesse contexto, esses filhos, que surgem depois da “tempestade”, podem trazer uma alegria renovada, preenchendo um vazio deixado pela perda.

Cada filho que chega é recebido por pais que, embora os mesmos em identidade, mudam ao longo do tempo. A experiência de criar um primeiro filho impacta profundamente a criação dos filhos seguintes. O momento em que um novo bebê nasce é único, e a forma como os pais se relacionam com ele é diferente, influenciada pelas vivências anteriores. Como resultado, cada filho recebe uma atenção distinta, seja ela mais cuidadosa, mais permissiva ou, em alguns casos, até negligente. Essa variação se dá pela evolução emocional e prática dos pais e pelo contexto único de vida que cada criança traz consigo. É inegável que essas experiências formam um legado entre pais e filhos, com consequências singulares, às vezes positivas, outras vezes complexas.

No filme “Corte no Tempo”, dirigido por Hannah Macpherson e disponível na Netflix, essa ideia de legado e perda é explorada através de uma narrativa intrigante e cheia de reviravoltas. Lucy (Madison Bailey), uma adolescente de ensino médio, está prestes a conquistar um estágio na NASA, mas hesita em compartilhar a novidade com seus pais. Esse receio surge do comportamento superprotetor deles, marcado pela perda de Summer (Antonia Gentry), a filha mais velha, assassinada por um serial killer em 2003. Esse trauma passado ainda reverbera na família, moldando a relação de Lucy com seus pais e gerando um sentimento de obrigação em honrar a memória da irmã.

A trama do filme se complica quando Lucy descobre uma máquina do tempo, que lhe permite voltar a 2003 e tentar salvar Summer de seu destino trágico. Ao retornar ao passado, Lucy se aproxima de Quinn (Griffin Gluck), um jovem deslocado socialmente e alvo de bullying do namorado de Summer, Ethan (Samuel Braun). Essa amizade oferece a Lucy uma via de acesso à vida de sua irmã, permitindo que ela desenvolva um vínculo com Summer, mesmo sem ser reconhecida. Fingindo ser apenas uma nova amiga, Lucy se infiltra no cotidiano da irmã, tentando alterar o curso dos eventos que levaram à sua morte.

O filme mistura elementos de ficção científica e terror adolescente, criando uma combinação única que equilibra o suspense com o humor sombrio de uma típica aventura de “slasher”. À medida que Lucy interage com Summer, passa a entender melhor tanto os desafios que a irmã enfrentou quanto as razões por trás do comportamento de seus pais. Essa perspectiva ampliada ajuda Lucy a se desvencilhar da sombra da irmã, revelando a complexidade da dor e do legado familiar que a cercam.

Embora seja um filme divertido e ágil, o enredo de “Corte no Tempo” não oferece profundidade além de sua superfície. Ele funciona bem como entretenimento, sem pretensões de ser um drama denso ou uma análise profunda das questões que aborda. A trama cumpre o papel de passatempo, com um estilo jovial e moderno, ideal para quem busca um filme despretensioso. Contudo, espectadores que esperam uma narrativa mais reflexiva e impactante talvez não encontrem o que procuram, já que a obra se limita a ser um thriller suave, sem explorar a fundo a complexidade das relações e perdas abordadas.


Filme: Corte no Tempo
Direção: Hannah MacPherson
Ano: 2024
Gênero: Horror/Ficção Científica
Nota: 7

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.