O amor e suas complexidades emocionais são temas que sempre intrigam. Quando duas pessoas se envolvem, elas partem em uma jornada onde o futuro é incerto, moldado por transformações inevitáveis, sejam internas, externas ou emocionais. O que antes parecia próximo e acolhedor pode, com o tempo, tornar-se algo distante, até irreconhecível, trazendo à tona facetas inesperadas da personalidade do outro. O impacto disso pode ser devastador, pois aquilo que um dia parecia sólido e seguro começa a desmoronar.
Tom Jobim, ao afirmar que o término de um amor é uma das experiências mais dolorosas, capturou a essência desse sentimento. Afinal, o amor não se limita a emoções fugazes; ele envolve sonhos divididos, planos cuidadosamente arquitetados, amizades fortalecidas, intimidade construída ao longo de dias e anos. No tecido dessas lembranças há tanto alegria quanto sofrimento. Mas o verdadeiro desafio está em aceitar que uma pessoa tão próxima possa, com o tempo, se transformar em alguém completamente estranho.
Em “Amores Solitários”, Susannah Grant, aclamada roteirista indicada ao Oscar por “Erin Brockovich”, lança luz sobre as camadas e fragilidades do amor. Owen, interpretado por Liam Hemsworth, é um executivo absorvido por uma rotina de compromissos, e-mails e telefonemas incessantes, que o afastam constantemente de sua parceira, Lily, vivida por Diana Silvers. Lily é uma escritora jovem e promissora, inspirada pela renomada autora Katherine Lowe, interpretada por Laura Dern, uma figura que admira profundamente.
Esse trio se reúne em um retiro de escritores em Marraquexe, no Marrocos, onde o distanciamento emocional de Owen e Lily se revela de forma inescapável. A relação desgastada entre os dois, antes uma questão oculta, torna-se evidente à medida que a crise latente vem à tona. Durante essa jornada, Owen encontra em Katherine algo que julgava perdido em sua relação com Lily — uma conexão genuína, sustentada por afinidades e por um entendimento mútuo que ele já não experimenta com sua parceira.
Lily, cuja atitude se torna cada vez mais fria e condescendente, projeta um desdém que faz Owen sentir-se deslocado e insuficiente. Ele percebe que não mais compartilha do mundo intelectual de Lily e, mesmo tendo feito o esforço de acompanhá-la até o retiro, sente o peso da desconexão. Katherine, por sua vez, lhe oferece um espaço de acolhimento e paz, algo que ele não experimentava há muito tempo, e o vínculo entre eles, antes uma amizade, rapidamente evolui para um romance.
Decidido a mudar sua vida, Owen opta por terminar seu relacionamento com Lily e abrir-se para uma nova fase ao lado de Katherine. No entanto, a chama de um novo amor não é garantia de estabilidade. Relacionamentos recentes, embora empolgantes, trazem seus próprios desafios, especialmente ao serem comparados a vínculos que resistiram ao tempo e aos altos e baixos da vida. Cultivar essa nova ligação demanda não apenas conexão momentânea, mas também perseverança para enfrentar as dificuldades que surgem inevitavelmente.
Embora “Amores Solitários” prometa uma análise profunda dessas complexidades, a execução acaba sendo menos detalhada do que o espectador espera. As vivências individuais dos personagens, que poderiam ser exploradas de forma envolvente, permanecem no raso, frustrando aqueles que buscam compreender com profundidade suas motivações e dilemas. Essa superficialidade impede uma conexão plena com os conflitos dos protagonistas, distanciando o público das emoções que poderiam tornar a história mais intensa.
Mesmo assim, o filme oferece interpretações sólidas e uma experiência satisfatória para os que apreciam narrativas românticas. Apesar de não avançar significativamente no desenvolvimento dos personagens, “Amores Solitários” cumpre seu papel de entreter, ainda que deixe o espectador com a sensação de que algo mais profundo poderia ter sido explorado.
Filme: Amores Solitários
Direção: Susannah Grant
Ano: 2024
Gêneros: Romance/Drama
Nota: 8/10