Top 1 mundial em 87 países: suspense de ação é o filme mais assistido do Prime Video na atualidade Divulgação / Amazon Prime Video

Top 1 mundial em 87 países: suspense de ação é o filme mais assistido do Prime Video na atualidade

O fim do mundo continua a ser um fetiche avassalador, e agora para além de fronteiras anglo-saxônicas. É o que se pode constatar em “Apocalipse Z: O Princípio do Fim”, sensação no Festival de Sitges, na Catalunha, especializado em filmes de terror e fantasia. A adaptação de Carles Torrens para o best-seller homônimo do espanhol Manel Loureiro, de 2007, conversa com “The Walking Dead” (2010-2022), mas mantém o frescor graças a diálogos que sabem a hora exata de sair do ramerrão das caçadas de mortos-vivos coléricos e concentrar-se nos aspectos colaterais da história.

Torrens, um dos expoentes da nova geração do cinema da Espanha, tem o condão de oxigenar clichês ao passo que deixa muito claro que seu filme é, sim, como enuncia o próprio título, uma história sobre um possível ocaso abrupto e incontornável da humanidade, valendo-se da recente pandemia de covid-19 para esboçar inferências acerca da finitude imanente. Nesse embalo, o roteiro de Loureiro e Ángel Agudo inclui a morte como uma experiência individual, claro, mas que pode transformar quem fica, para a melhor ou para a pior. O que significa dominar os traumas ou sucumbir a eles.

O protagonista, Manel, como o autor, gozava de uma vida sem grandes sobressaltos, ainda que fosse começara enfrentar uma crise em seu relacionamento com Julia. Ela quer filhos, ele não parece tão interessado, e enquanto tratam do assunto voltando para casa, escapam de uma colisão contra outro automóvel, mas são abalroados por um caminhão, que joga longe o carro deles. Ela morre, ele se fecha num luto impenetrável, que nem o sobrinho nem Lúculo, o gato que divide o nome com o general glutão da Roma Antiga, conseguem arrefecer.

Pouco depois, o diretor menciona a disseminação de um vírus que leva as pessoas a atacarem-se umas às outras a dentadas, daí resultando um comportamento antissocial e perigoso, que deriva para pânico e desabastecimento de supermercados e bloqueio dos canais de comunicação. Torrens aproveita a oportunidade para construir um estimulante núcleo intergeracional, quando Manel encontra Gabriela, uma idosa abandonada pelos filhos na correria dos últimos acontecimentos, e mais uma vez Francisco Ortiz mostra estar no comando de seu personagem e do filme, explorando os tantos sentimentos contraditórios de um homem desacreditado de tudo, mas empenhado em minimizar a agonia de quem encontra. No momento em que finalmente pode falar com Belén, a irmã vivida por Marta Poveda, segue para as ilhas Canárias, pensando que lá teria algum sossego. Mas não.

Talvez nem Loureiro suspeitasse que seu blog, o rascunho do livro, fosse tão longe. Há, sim, lances em que “Apocalipse Z: O Princípio do Fim” apela para o sentimentalismo fácil, sobretudo no desfecho, mas mesmo aqueles que não têm apreço especial por esse gênero podem deixar escorrer uma furtiva lágrima ao assistir às desventuras de Manel e pôr-se a especular sobre seu próprio destino. É tudo formulaico — o que ainda tem rendido acusações de plágio ao escritor —, mas a diversão é garantida.


Filme: Apocalipse Z: O Princípio do Fim
Direção: Carles Torrens
Ano: 2024
Gêneros: Fantasia/Ação/Terror
Nota: 8/10