O suspense agonizante da Netflix que é considerado uma obra-prima, mas poucos conseguem assistir até o fim Divulgação / Netflix

O suspense agonizante da Netflix que é considerado uma obra-prima, mas poucos conseguem assistir até o fim

Richard Shepard, em “The Perfection”, explora com maestria temas clássicos do cinema ao reinterpretar o enredo de rivalidade e mistério, numa trama onde o público é levado a questionar as motivações ocultas das personagens. Shepard, ao lado de Eric C. Charmelo e Nicole Snyder, assina um roteiro que desafia as aparências, revelando um lado sombrio e traiçoeiro, cuidadosamente escondido sob a fachada de uma personagem aparentemente inofensiva.

Charlotte, interpretada por Allison Williams, é uma ex-aluna talentosa da prestigiada Bachoff Academy of Music, situada próxima a Boston. Ela interrompeu seus estudos para cuidar da mãe, que estava gravemente doente, mas, após a morte dela, Charlotte busca retomar o contato com seu mentor, Anton Bachoff, e viajar para encontrá-lo na China, onde ele e sua esposa, Paloma, estão acompanhados de Elizabeth (Lizzie), nova protegida de Anton e interpretada por Logan Browning. A jovem violinista agora ocupa o espaço que outrora pertencia a Charlotte, o que gera uma atmosfera de tensão velada e expectativa.

Shepard constrói a narrativa com sutileza, lançando Charlotte e Lizzie em uma relação repleta de complexidade e ambiguidade, onde admiração e rivalidade se entrelaçam. O diretor utiliza estratégias narrativas não convencionais, evitando expor diretamente o desconforto de Charlotte com a ascensão de sua rival. Ao invés disso, as duas aparentam nutrir um interesse mútuo, especialmente por parte de Charlotte, que parece encantada com Lizzie. Em uma dinâmica de admiração mútua, a relação evolui para um envolvimento amoroso, que culmina em uma viagem rumo ao oeste da China, onde uma série de eventos perturbadores se desdobra.

Durante a viagem, o enredo se transforma radicalmente. Williams e Browning entregam performances intensas, transmitindo o terror crescente que cerca suas personagens. Lizzie se vê em um estado de pânico, dominada pela incerteza e pelo medo, enquanto Charlotte, em uma jogada reveladora, compartilha desse temor que ela mesma instigou. Nesse momento, Shepard utiliza uma eficaz analepse para revisitar momentos anteriores da história, preenchendo lacunas intencionais com novas perspectivas que intensificam o drama. Essa técnica culmina em uma reviravolta onde Charlotte e Lizzie se fundem em um só destino, subvertendo as expectativas e explorando os limites da vingança e redenção.

Sem ceder à tentação de chocar gratuitamente, “The Perfection” se mantém envolvente, evitando excessos e focando em uma trama coesa que não demanda um segundo a mais para ser resolvida. Shepard demonstra um domínio impecável do suspense, provando que a força de uma narrativa reside na precisão com que ela é contada, onde cada cena reforça a tensão e solidifica a história com um equilíbrio impressionante.


Filme: The Perfection
Direção: Richard Shepard
Ano: 2019
Gêneros: Suspense/Terror psicológico
Nota: 9/10