Parece bobinha, mas não é: comédia romântica doce e respeitosa mostra amor fora da caixa, no Prime Video David Dare Parker / Monsoon Pictures Australia

Parece bobinha, mas não é: comédia romântica doce e respeitosa mostra amor fora da caixa, no Prime Video

Em 2020, o filme “Palavras nas Paredes do Banheiro” foi lançado, trazendo uma visão sensível sobre o romance adolescente de um jovem esquizofrênico. Baseado no livro de Julia Walton e dirigido por Thor Freudenthal, o longa oferece uma perspectiva diferente: a de um adolescente que, apesar de enfrentar os desafios de uma doença mental, deseja experimentar o amor e viver uma vida típica de sua idade.

Essa abordagem aproximou o público da realidade dos transtornos mentais, revelando o quanto eles são mais comuns e complexos do que se imagina. Ao naturalizar e humanizar esses personagens, o filme contribui para a compreensão e a empatia em relação a condições como esquizofrenia, bipolaridade, borderline e outros transtornos psicológicos. Essa visão ajuda a desestigmatizar aqueles que vivem com esses diagnósticos, reforçando a importância de enxergá-los sem preconceitos.

Ainda em 2020, do outro lado do mundo, na Austrália, surgiu outro filme com uma temática semelhante, mas com uma abordagem mais leve e cômica. “A Garota dos Seus Sonhos”, dirigido por Luke Eve e roteirizado por Glen Dolman, também contribui para retratar os transtornos mentais com naturalidade e respeito. O filme narra uma história similar à de “Palavras nas Paredes do Banheiro”, mas em um tom mais lúdico, ajudando o espectador a enxergar as dificuldades e os desafios enfrentados por quem lida com uma condição mental. “A Garota dos Seus Sonhos” nos leva a observar o cotidiano de uma pessoa diagnosticada com esquizofrenia, abordando suas lutas, vivências e desejos.

No filme, Devon (Brenton Thwaites) é um jovem músico, na faixa dos 20 anos, que convive com a esquizofrenia. Seus surtos frequentes e crises psicóticas são uma fonte constante de preocupação para seu irmão, Nick (Joel Jackson), que se dedica a cuidar de sua saúde e segurança. Nick se mostra vigilante e atento, lembrando Devon de tomar os remédios e repreendendo-o por atitudes que julga irresponsáveis.

Quando Devon conhece Lucy (Lily Sullivan), ele é arrebatado por uma paixão imediata, mas, devido a sua condição, passa a duvidar se ela é real ou fruto de sua mente. Quando Lucy desaparece, pedindo que ele a encontre em Sidney, Devon decide embarcar em uma jornada impulsiva para reencontrá-la. Durante essa aventura, o filme explora as diversas crises mentais vividas pelo protagonista, deixando o público em constante dúvida sobre a existência real de Lucy.

As visões de Devon variam entre momentos assustadores e situações cômicas, retratando a complexidade de sua mente. Como espectadores, somos conduzidos a uma experiência imersiva, vendo o mundo sob a ótica de Devon e compreendendo a dramaticidade de viver em uma mente tão particular e desafiadora. “A Garota dos Seus Sonhos” oferece uma representação respeitosa e sensível da esquizofrenia, intercalando cenas emocionantes e outras repletas de humor. Essa mistura entre o trágico e o cômico proporciona uma visão humana e empática do protagonista.

Apesar das limitações do roteiro, que poderia ter aprofundado mais nos personagens e em algumas motivações, “A Garota dos Seus Sonhos” consegue tocar em questões essenciais sobre os transtornos mentais. O filme convida o espectador a ver além dos preconceitos e perceber que, mesmo lidando com uma condição complexa, pessoas como Devon são igualmente capazes de desejar e buscar o amor, a felicidade e uma vida plena, como qualquer outra pessoa.

Esse toque de comédia romântica, apesar de leve, representa um avanço importante para o entendimento e respeito pelas diferentes condições mentais, ao mostrar que, por trás de cada diagnóstico, existe uma pessoa com sonhos, esperanças e sentimentos reais.


Filme: A Garota dos Seus Sonhos
Direção: Luke Evans
Ano: 2020
Gênero: Comédia/Romance/Drama
Nota: 8

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.