O recordista do streaming que ficou mais de 500 dias no Top 10 da Netflix Karolina Grabowska / Netflix

O recordista do streaming que ficou mais de 500 dias no Top 10 da Netflix

Michele Morrone, o ator que interpreta Massimo Torricelli no polêmico filme “365 Dias”, vivenciou uma transformação significativa em sua vida antes de se tornar um nome reconhecido. Antes da fama, Morrone era jardineiro em uma pequena cidade no norte da Itália, enfrentando dificuldades financeiras, recém-separado e buscando novos caminhos para seguir. Sua vida tomou um rumo inesperado quando recebeu uma ligação da Polônia, convidando-o para o papel principal em um filme que mudaria completamente seu destino. O sucesso global de “365 Dias”, disponível na Netflix, foi estrondoso, com a produção figurando por mais de 500 dias entre os dez filmes mais assistidos da plataforma. O fenômeno foi tão grande que levou à criação de uma sequência igualmente bem-sucedida.

O filme, baseado na obra de Blanka Lipińska e dirigido por Barbara Bialowas e Tomasz Mandes, aborda temas que frequentemente transitam pela fantasia adulta, como dominação, poder e as fronteiras do que é considerado aceitável. É fundamental, no entanto, entender que esses elementos são parte de uma ficção e não devem ser interpretados como reflexões ou endossos de comportamentos adequados na vida real.

A história de “365 Dias” centra-se em Massimo, que assume a liderança de um clã mafioso siciliano após o assassinato de seu pai. A narrativa, repleta de simbolismos de controle, poder e riqueza associados à máfia italiana, fascina por criar um ambiente onde os personagens parecem viver sem limites, alimentando as fantasias de muitos espectadores.

O aspecto mais polêmico da trama reside na relação entre Massimo e Laura Biel, interpretada por Anna-Maria Sieklucka. Laura é sequestrada por Massimo durante uma viagem à Sicília com seu namorado. Essa situação, que na realidade seria um evento traumatizante e criminoso, é apresentada no filme como um ponto de partida para um romance. Apesar das críticas geradas, é essencial lembrar que se trata de uma obra de fantasia, que visa explorar essa dinâmica de maneira fictícia. O relacionamento entre Massimo e Laura, que envolve aspectos de controle e dominação, não deve ser interpretado como um ideal ou modelo a ser seguido fora das telas.

Dentro da narrativa, Massimo revela a Laura que teve visões dela antes de se encontrarem, convencendo-se de que seus destinos estão entrelaçados. Ele a coloca em uma situação em que, se ela não se apaixonar por ele em 365 dias, será libertada. O filme tenta construir Massimo como um amante intenso e respeitoso, que não força uma relação física com Laura sem o seu consentimento.

À medida que a história avança, Laura, que no início se sente confusa e assustada, começa a desenvolver sentimentos por Massimo. Essa atração intensa entre os dois culmina em várias cenas eróticas e explícitas. Essas sequências, com uma estética sensual, foram coreografadas para expressar intimidade através de detalhes visuais como a pele, o suor, as expressões faciais e os sons. A produção fez questão de esclarecer que, apesar do realismo dessas cenas, tudo foi realizado de forma profissional e consensual entre os atores, afastando especulações sobre a natureza das filmagens.

Entretanto, o romance entre Laura e Massimo está constantemente sob a ameaça do perigoso mundo mafioso em que ele vive. Como líder de uma organização criminosa, Massimo está sempre exposto a riscos, e seu envolvimento com Laura inevitavelmente a coloca em perigo. Essa ameaça contínua, somada à tensão sexual e emocional entre os dois, é o que impulsiona a narrativa.

Apesar do êxito comercial, “365 Dias” foi alvo de críticas significativas, principalmente pela forma como aborda relacionamentos abusivos, controle obsessivo e a glamorização da violência e do sequestro. É crucial entender o filme como uma fantasia, um produto da imaginação voltado para o entretenimento, sem se pretender uma representação fiel ou desejável das dinâmicas de poder e afeto.


Filme: 365 Dias
Direção: Barbara Bialowas e Tomasz Mandes
Ano: 2020
Gênero: Drama/Romance
Nota: 7

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.