Imperdível e eletrizante: o melhor filme de ação de Angelina Jolie está na Netflix e vai te prender do início ao fim Divulgação / Columbia Pictures

Imperdível e eletrizante: o melhor filme de ação de Angelina Jolie está na Netflix e vai te prender do início ao fim

A Guerra Fria, aquele longo período de disputas indiretas e ideológicas entre os Estados Unidos e a União Soviética, seguiu influenciando narrativas de espionagem e intriga, onde temas de lealdade e traição ganham contornos complexos. Durante décadas, o socialismo soviético foi apresentado como um caminho para uma sociedade mais justa, uma utopia onde a igualdade prevaleceria, ao passo que o capitalismo ocidental, promovido pelos Estados Unidos, representava a liberdade individual e a prosperidade. No entanto, o cenário soviético, com sua cúpula de dirigentes que usufruíam dos benefícios materiais e do luxo capitalista, estava longe de ser coerente com os ideais propagados, despertando dúvidas até entre seus próprios cidadãos sobre a viabilidade de uma sociedade verdadeiramente igualitária. Em um ambiente como esse, a desconfiança e o jogo de interesses criavam a oportunidade perfeita para histórias de espionagem, em que espiões transitavam entre lealdades conflitantes e enfrentavam dilemas éticos profundos.

“Salt” explora essa atmosfera de tensão global por meio de sua protagonista, uma espiã que transita entre lealdades divididas. Na trama, a personagem, que aparenta servir tanto ao rígido sistema russo quanto ao liberalismo ocidental, acaba na mira de diversas agências de inteligência internacionais. Cada uma dessas agências possui um objetivo diferente: algumas querem atraí-la para o próprio lado, enquanto outras buscam neutralizá-la a qualquer custo. A anti-heroína Evelyn Salt, que parece estar em constante fuga, é uma figura enigmática, cercada por perigos e desafios quase insuperáveis. Ao longo do filme, o roteiro de Kurt Wimmer revela facetas de sua personalidade e história pessoal, conferindo-lhe uma profundidade que ultrapassa o estereótipo da espiã infalível. A personagem de Salt, que poderia optar por uma vida comum, escolhe, em vez disso, enfrentar adversidades e enfrentar forças maiores em nome de suas próprias crenças, mesmo quando isso significa colocar sua própria vida em risco.

A ação começa de forma intensa e não dá trégua ao espectador. Em uma das primeiras cenas de “Salt”, Evelyn, interpretada por Angelina Jolie, é apresentada em condições extremas, suportando torturas severas em um sombrio porão de uma prisão norte-coreana. Ali, ela é vítima de tratamentos degradantes, até que, num movimento inesperado, Kim Jong-il, o então líder da Coreia do Norte, decide libertá-la. Salt, no entanto, não compreende completamente o motivo por trás dessa decisão, que envolveu um enorme esforço financeiro e diplomático dos Estados Unidos para garantir sua soltura.

Ao cruzar a fronteira entre as Coreias, ela é recepcionada pelo marido, Mike Krause, um biólogo alemão-americano interpretado por August Diehl, que se torna seu porto seguro em meio a uma vida de riscos e perseguições. Em flashbacks que remontam a uma década anterior, vislumbramos Evelyn em momentos de felicidade ao lado de Mike, o que contrasta com a turbulência que ela enfrenta no presente e indica que, mesmo nos dias de paz, seu destino já parecia traçado por sombras e segredos que ela tentava deixar para trás.

Mas o reencontro com a vida normal de Salt dura pouco, pois logo ela se vê envolvida em uma trama muito maior. Quando cruza o caminho do russo Oleg Vassilyevich Orlov, interpretado por Daniel Olbrychski, sua vida dá uma nova guinada. Orlov é um notório gangster do cenário russo, com uma influência que se estende para além do crime organizado e que agora recruta Salt para uma missão de proporções globais. Esse breve e intenso encontro entre os dois coloca Salt novamente na linha de tiro, pois, a partir desse momento, ela passa a ser perseguida, inclusive, por aqueles que outrora foram seus aliados.

As cenas de perseguição e combate intensificam-se ao longo do segundo ato, enquanto Salt tenta escapar das investidas de Ted Winter, interpretado por Liev Schreiber. Winter, um agente de alta patente da CIA, assume o papel de seu principal antagonista, guiado por uma determinação inflexível de caçá-la e trazê-la à justiça. Em meio a esses embates, os ideais de ambos se revelam, e a rivalidade entre eles adquire camadas de tensão que elevam a narrativa, criando uma atmosfera de incerteza onde a linha entre inimigo e aliado se dissolve a cada novo confronto.

O filme constrói, então, um cenário de incertezas e perigos constantes, onde Salt deve agir por impulso e confiar em sua intuição para sobreviver. Cada nova revelação do roteiro de Wimmer expande o mistério sobre as verdadeiras motivações de Evelyn e oferece pistas sutis sobre os elementos que formaram sua complexa personalidade. A medida que ela segue sua jornada, enfrentando não apenas forças exteriores, mas também seus próprios dilemas morais, o espectador é levado a questionar até que ponto Salt está disposta a ir em busca de um ideal ou se, no fundo, sua luta é mais pessoal do que qualquer causa.


Filme: Salt
Direção: Phillip Noyce
Ano: 2010
Gêneros: Ação/Mistério
Nota: 9/10