São tantas as reviravoltas em “A Grande Ilusão” que é difícil saber por onde começar essa crítica. Adaptado por Danny Brocklehurst do romance homônimo de Harlan Coben de 2016, os oito episódios da série dirigida por David Moore e Nimer Rashed falam de um casamento apodrecido que se arrasta por mais tempo que o aconselhável, cidadãos de bem com um arsenal de guerra em cofres domésticos, a superproteção de uma mãe a um filho bastante crescidinho e, o principal, no que isso tudo pode interferir na qualidade de vida de uma mulher já aflita, meio sem rumo.
Michelle Keegan carrega boa parte do enredo nas costas, contando com um elenco de apoio bem-estruturado, que avança e volta em flashbacks pontuais explicando o motivo de algumas situações. Maya Stern, a personagem de Keegan, uma ex-capitã do Exército que virou monitora de uma escola de atiradores, continua a lidar bem com toda sorte de pressão, exceto quanto a qualquer assunto que se refira à morte do marido, 28 anos atrás. É daí que a história irrompe, chegando ao um desfecho formulaico, mas nem por isso menos surpreendente.
Em 1996, Maya e o marido, Joe Burkett, passeiam por um parque quando são abalroados por um bando de adolescentes. É tudo muito rápido, mas na sequência a câmera sai do plano geral e capta um homem ensanguentado: Joe levara um tiro e pouco depois, no funeral, resta claro que essa família tem muito a esconder. O personagem de Richard Armitage sai de cena, mas Maya está mais enredada do que jamais esteve, em especial depois que vê o marido numa filmagem caseira, pela câmera oculta do porta-retrato dado por uma amiga.
Quase tudo o que acontece nos próximos capítulos remete a esse evento, e entre os embates da ex-capitã e Judith, a sogra vivida por Joanna Lumley, uma psiquiatra famosa que parece dedicada em colocá-la ou na cadeia ou no hospício, e Sami Kierce, o detetive que investiga o assassinato de Joe, Maya processa também a morte da irmã — outro mistério a se ligar com o crime do parque —, ao passo que se esforça para compreender em que medida pode ser razoável pensar que o cônjuge tenha encontrado um jeito de livrar-se dela, a vítima de uma armação diabólica. E aqui se levanta outro enigma.
A maneira como Moore e Rashed ligam os pontos e conseguem uma narrativa coesa a despeito do emaranhado de situações insólitas e mesmo ridículas mantém a audiência presa, à espera do próximo lance, sempre tão absurdo quanto os demais. Sem pressa, aspectos que por pouco não passam batidos, como a amizade entre a protagonista e o personagem de Adeel Akhtar ou a aversão de Judith à nora, desanuviam zonas cinzentas, e levam fecham a temporada com todas as cartas na mesa. Se “A Grande Ilusão” é ou não verossímil é uma outra conversa.
Série: A Grande Ilusão
Criação: Danny Brocklehurst
Ano: 2024
Gêneros: Thriller
Nota: 8/10