Ninguém hesitaria em voltar ao passado para evitar um acontecimento que poderia mudar radicalmente seu futuro, mas depois de deixar de lado a emoção e se ater somente à lógica, mesmo o mais tolo dos homens chegará à conclusão de que o tempo é de fato o senhor da vida, não se submete a nenhum querer, por mais bem-intencionado que pareça, e não se conformar com isso é o atalho para o desastre. Hannah Macpherson, contudo, não está muito disposta a aceitar uma das lei mais elementares da física e em “Corte no Tempo” se propõe a levar seus personagens por uma jornada aos anos que não renascem mais, ainda que o objetivo seja nobre. Junto com o corroteirista Michael Kennedy, Macpherson aposta num elenco coeso para levar uma história manjada, cujo desfecho, previsível, reforça clichês — malgrado em boa parte dos noventa minutos haja, sim, sustos dignos de um slasher infantojuvenil.
Tentando despistar seus sentimentos, o homem cria armadilhas que o aprisionam nos labirintos de sua própria memória. Tempo e espaço são conceitos ilusórios, meramente ilustrativos, para que tenhamos alguma noção do que já aconteceu, do quanto falta para atingirmos determinado ponto do que se convencionou qualificar como futuro e onde nós estamos agora, entre um e outro extremo. Com a teoria da relatividade, publicada em 1905, um dos trabalhos mais célebres de Albert Einstein (1879-1955), o físico alemão naturalizado americano faz menção justamente a essa natureza elástica do tempo, já que as leis da física são iguais para todo referencial inercial, isto é, um ponto do qual se deseje partir, a fim de se atingir dado lugar no universo. A velocidade da luz, por sua vez, não sofre a interferência da fonte emissora e de quem a recebe, do corpo que a emana para o qual se dirige, apresentando frequência equivalente em todos os sistemas inerciais de onde se origine.
A desafiante da vez é Lucy Fields, que retrocede o suficiente para evitar que a irmã, Summer, seja morta. Certo, a intenção é boa, mas como de boas intenções está cheio o inferno, Lucy vai deixando um rastro de destruição por onde passa, argumento que não tarda a se perder em meio à necessidade cada vez maior de se ter novas surpresas, uma fragilidade muito própria do gênero. Madison Bailey e Antonia Gentry bem que tentam, mas não conseguem superar o interminável lero-lero da tal insana viagem, sobretudo no primeiro ato. Em “Corte no Tempo”, o tal efeito borboleta é mais devastador do que se poderia imaginar.
Filme: Corte no Tempo
Direção: Hannah Macpherson
Ano: 2024
Gêneros: Terror/Suspense
Nota: 7/10