Ação com Kate Beckinsale, no Prime Video, mistura John Wick com Jack Reacher em um dos filmes mais assistidos de 2024 Divulgação / Amazon Prime Video

Ação com Kate Beckinsale, no Prime Video, mistura John Wick com Jack Reacher em um dos filmes mais assistidos de 2024

Uma agente secreta volta de um encargo no Japão para a Croácia, onde mora com o marido. A vida segue seu curso, particularmente serena para um casal sem filhos, até que uma bomba relacionada ao trabalho dela cai sobre a vida dos dois. Pierre Morel é um especialista em dispor de questões alheias ao desempenho profissional de espiões para, a partir disso, levantar seus filmes, e em “Canary Black” — na prática um remake de “Busca Implacável” (2008) — continua firme no propósito de fazer o personagem central suar, correr, saltar de prédios e ameaçar explodir a cabeça de ex-aliados, tudo sem desfazer o penteado nem quebrar o salto da bota. Na pele de Avery Graves, Kate Beckinsale se sai bem como o Liam Neeson da hora, malgrado sua presença magnética não seja capaz de afastar da lembrança do espectador o original de 2008. A grande diferença do roteiro de Matthew Kennedy é, sem dúvida, a abordagem meio destrambelhada de tópicos colaterais a exemplo de feminismo e o iminente fim do mundo, assuntos que nunca saíram da pauta nas últimas seis décadas.

Avery não pensa duas vezes em abrir fogo, estripar ou arremessar objetos contra seus inimigos, e é o que de fato acontece ao saber que seu marido, David Brooks, de Rupert Friend, foi feito refém de uma quadrilha internacional que exige que ela lhes consiga acesso ao Canary Black, um arquivo com todas as senhas de todos os dispositivos do planeta, o que significa interferir no funcionamento de governos, hospitais, escolas e bancos, enfim, o apocalipse.

A sequência de abertura, em que a protagonista bate uma legião de mafiosos nipônicos, repete-se em outras tantas vezes, e Kate Beckinsale está sempre no comando, mesmo que tenha precisado contar com dublês em cenas como a que mostra Avery lançando-se da janela estilhaçada de um arranha-céu para agarrar o drone que a meia-irmã, Sorina, uma hacker profissional, manda em seu socorro. Bissextas, as aparições de Romina Tonkovic conferem um vigor providencial ao eixo da trama, interrompendo o ramerrão da caçada de Avery por seus ainda colegas de CIA, chefiados por Nathan Evans, o burocrata obtuso de Ben Miles. Do outro lado, Jarvis Hedlund, o chefe camarada vivido por Ray Stevenson (1964-2023), acaba comprometendo a carreira por causa dela, convicto de que a moça está com a razão e há mesmo algo de podre nessa história.

Quando esquece as pretensões de catequese feminista e se concentra no que o público espera do filme, Morel oferece um espetáculo bem-coreografado de movimento e luzes numa escuridão invencível, com pouco espaço para brandura. Exatamente como deve ser o canto do pássaro mais triste a anunciar a última aurora.


Filme: Canary Black 
Direção: Pierre Morel
Ano: 2024
Gêneros: Ação/Thriller
Nota: 8/10

Giancarlo Galdino

Depois de sonhos frustrados com uma carreira de correspondente de guerra à Winston Churchill e Ernest Hemingway, Giancarlo Galdino aceitou o limão da vida e por quinze anos trabalhou com o azedume da assessoria de políticos e burocratas em geral. Graduado em jornalismo e com alguns cursos de especialização em cinema na bagagem, desde 1º de junho de 2021, entretanto, consegue valer-se deste espaço para expressar seus conhecimentos sobre filmes, literatura, comportamento e, por que não?, política, tudo mediado por sua grande paixão, a filosofia, a ciência das ciências. Que Deus conserve.