Filme baseado em evento real, impactante e devastador está no Top 10 da Netflix em mais de 70 países Divulgação / Netflix

Filme baseado em evento real, impactante e devastador está no Top 10 da Netflix em mais de 70 países

Filme nigeriano dirigido por Robert Peters, “O Voo Sequestrado” entrou para o Top 10 da Netflix no Brasil, trazendo uma trama baseada em um episódio real ocorrido em outubro de 1993. O longa narra a história de um grupo de sequestradores, membros de uma facção pró-democracia, que tomou o controle de uma aeronave com o objetivo de chamar a atenção do mundo para os abusos do governo militar ditatorial que vigorava na Nigéria.

Na época, o país estava sob o comando do general Sani Abacha, um regime conhecido pela repressão severa a opositores. Os sequestradores, jovens ativistas revolucionários, tinham como plano inicial pousar o avião em Frankfurt, na Alemanha, onde acreditavam que sua ação ganharia maior visibilidade internacional. No entanto, por questões de combustível, o voo, que era doméstico, foi desviado para Niamey, no Níger, onde aguardariam o reabastecimento antes de tentarem seguir viagem. A intenção dos sequestradores era que o ato fosse um apelo internacional pelo retorno à democracia na Nigéria, que vivia sob um dos períodos mais opressivos de sua história.

A operação de sequestro se estendeu por cerca de 48 horas. Durante esse período, a aeronave permaneceu na pista de pouso em Niamey, onde houve horas de intensas negociações entre os sequestradores e as autoridades locais para tentar resolver a situação de forma pacífica. Embora “O Voo Sequestrado” se baseie em fatos reais, o diretor Robert Peters optou por personagens fictícios, uma decisão que visava dar mais profundidade à narrativa, mas acabou introduzindo um tom novelesco e, em certos momentos, uma carga dramática que compromete a credibilidade da trama.

Um dos pontos que compromete a imersão do espectador é a superficialidade com que os personagens são retratados. Em vez de explorar a complexidade emocional dos sequestradores e o dilema moral dos envolvidos, o filme acaba priorizando cenas excessivamente dramáticas, que enfraquecem a tensão necessária para sustentar a narrativa. O ritmo, por sua vez, não consegue se manter consistente, o que resulta em uma experiência menos envolvente para o público. Esse desequilíbrio narrativo acaba prejudicando o tom político e a mensagem central do filme, que deveria ser um apelo à memória da luta pela democracia, mas que se perde em meio à tentativa de amplificar a carga emocional.

Esse excesso de dramatização também afeta o elenco, composto por atores talentosos que, infelizmente, não têm suas atuações devidamente aproveitadas. Personagens que poderiam ser peças-chave na construção de um retrato social e histórico mais profundo acabam ficando estereotipados, comprometendo a autenticidade e a seriedade que o tema exigiria. Em vez de se aprofundar nas motivações dos sequestradores ou nas condições sociais e políticas que motivaram o ato de protesto, o filme opta por um desenvolvimento mais superficial, sacrificando o impacto emocional e a verossimilhança em prol de um espetáculo visual e sentimental.

“O Voo Sequestrado” desperdiça a chance de explorar de maneira mais contundente e crítica uma história que poderia ressoar de forma significativa com o público contemporâneo. Ao tentar equilibrar a tensão de um thriller e a complexidade de uma trama política, o filme acaba diluindo ambos os elementos e entrega um produto que, embora visualmente interessante, não consegue transmitir plenamente a urgência e a seriedade da mensagem que propõe.


Série: O Voo Sequestrado
Criação: Robert Peters
Ano: 2024
Gênero: Thriller/Drama
Nota: 7

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.