Último dia na Netflix: Johnny Depp em um mistério à la Agatha Christie, com o toque sombrio de Polanski Divulgação / Orly Films

Último dia na Netflix: Johnny Depp em um mistério à la Agatha Christie, com o toque sombrio de Polanski

Roman Polanski desponta como uma figura paradoxal na história do cinema. Judeu e sobrevivente do Holocausto, perdeu quase todos os familiares e atravessou a Segunda Guerra escondido entre florestas e celeiros, escapando do cerco nazista na Polônia. Como Wladyslaw Szpilman, personagem de “O Pianista” que lhe rendeu um Oscar de direção, Polanski experienciou a brutalidade do regime. Após reencontrar seu pai, único parente sobrevivente, o cineasta iniciou sua trajetória no cinema, o que o levou aos Estados Unidos em 1968, onde realizou “O Bebê de Rosemary”. Seu talento já havia sido reconhecido anteriormente com o Urso de Ouro por “Repulsa”, estabelecendo-o como um diretor promissor e inovador.

No entanto, a temporada nos Estados Unidos trouxe momentos difíceis, incluindo o assassinato de sua esposa grávida, Sharon Tate, pela seita de Charles Manson enquanto ele promovia seu filme. Após esse trauma, voltou para a Europa, mas posteriormente retornou aos Estados Unidos para dirigir “Chinatown”. Novos problemas, porém, surgiram quando foi condenado por abuso de uma menor de idade, levando-o a exilar-se na Europa permanentemente. Mesmo assim, sua obra não cessou, deixando uma marca profunda no suspense e drama psicológico. Ele atuou e dirigiu em mais de 40 filmes, entre eles “O Inquilino”, parte da notória Trilogia dos Apartamentos.

Entre suas produções mais sombrias, “O Último Portal” com Johnny Depp é singular. Fugindo dos clichês do terror, Polanski constrói uma atmosfera de paranoia, explorando a sanidade e o confinamento psicológico de seus personagens. Esse estilo autoral, aliado a um senso de confinamento, cria um ambiente claustrofóbico que desafia o espectador a refletir sobre o que vê. A tensão crescente e a ambiguidade dos desfechos deixam o público com questões que ressoam após o fim do filme.

No enredo de “O Último Portal”, o especialista Dean Corso é contratado pelo ocultista Boris Balkan para verificar a autenticidade de um raro livro supostamente ligado a Lúcifer. Apenas três cópias do livro existem, e Balkan deseja saber se a sua é genuína. Durante a investigação, Corso entra num mundo obscuro, repleto de segredos e conspirações. A narrativa se desenrola em cenários europeus cheios de simbolismo, ângulos de câmera inusitados e pitorescas paisagens antigas, que reforçam o tom enigmático da obra. Apesar dos efeitos de 1999, o filme permanece impactante e continua a instigar com seu estilo visual e intrigante abordagem narrativa.


Filme: O Último Portal
Direção: Roman Polanski
Ano: 1999
Gênero: Mistério / Terror / Suspense
Nota: 9/10