O tempo é um adversário implacável que, imune a nossos esforços, permanece invicto. Essa inescapável sensação de luta contra um rival intangível se intensifica quando não temos clareza sobre nossas prioridades, ou sobre o instante certo para abandonarmos o que fazemos e dedicarmos nossa energia ao que realmente nos pertence.
Esse dilema define “60 Minutos”, o filme de Oliver Kienle, que transforma um clichê em algo novo e cativante, mesmo que o conceito central já tenha sido explorado em outras obras. A corrida contra o relógio evoca clássicos do cinema como “Fuga de Nova York” (1981), de John Carpenter, e “Contra o Tempo” (2011), de Duncan Jones — sem mencionar a icônica reflexão de Robert Zemeckis sobre a vaidade do desejo por eras passadas em “De Volta para o Futuro” (1985). Contudo, Kienle não se contenta em reciclar uma fórmula desgastada. Em vez disso, busca algo mais autêntico e dá vida a um protagonista que luta para quebrar as amarras que ele próprio criou, enquanto desafia o tic-tac do relógio em busca de uma redenção há muito desejada.
Octavio Bergmann, uma promessa das lutas de MMA, prepara-se para um confronto crucial. A batalha, além de resolver os problemas financeiros de sua academia, será travada contra Roberto Benko na famosa Arena NYX, em Berlim. O evento, cercado de apostas vultosas, coloca Octavio diante de uma escolha inadiável, e desde o início ele sabe que não poderá recuar.
Porém, ele promete à ex-mulher, Mina — interpretada por Livia Matthes —, que estará presente para a festa de aniversário de sete anos da filha Leonie, levando um bolo especial e a gatinha adotada por ela em um abrigo. No entanto, Octavio falha repetidamente com Leo, oferecendo esperanças vazias; desta vez, Mina deixa claro que não aceitará desculpas. Inicia-se então o drama do lutador, que tenta equilibrar a pressão dos patrocinadores, os interesses de quem já investiu somas consideráveis, e seu amor pela filha, a quem deseja desesperadamente não decepcionar.
Conforme a tensão aumenta, Octavio recebe ligações urgentes de Mina e mensagens dos patrocinadores, criando uma atmosfera densa e claustrofóbica. Ele decide abandonar tudo e partir em uma corrida desenfreada para chegar à festa de Leo, enfrentando o desafio de conciliar seus compromissos profissionais e sua lealdade familiar.
O restante do filme transita entre cenas de ação intensas e a engenhosidade improvisada de Octavio ao tentar escapar de seus ex-parceiros, que não toleram sua traição. Kienle, junto com o corroteirista Philip Koch, apresenta motivos convincentes para a ira dos organizadores da luta, enquanto Emilio Sakraya dá vida ao personagem com uma performance que pode ser comparada a um Jean-Claude Van Damme contemporâneo. Em uma sequência que remete à brutalidade de “John Wick”, “60 Minutos” conquista seu lugar por meio de suor, sangue e lágrimas, culminando em uma vitória genuína e inesquecível.
Filme: 60 Minutos
Direção: Oliver Kienle
Ano: 2024
Gênero: Ação/Aventura/Drama
Nota: 9/10