Comédia romântica madura e profunda, na Netflix, que vai te ensinar a lidar com seu coração partido Sarah Shatz / Netflix

Comédia romântica madura e profunda, na Netflix, que vai te ensinar a lidar com seu coração partido

A comédia romântica “Alguém Especial”, de Jennifer Kaytin Robinson, transporta a teoria de Zygmunt Bauman sobre a liquefação dos vínculos humanos para um enredo leve e envolvente. Na trama, acompanhamos a história de Jenny e suas amigas, jovens urbanas, que, após uma série de lutas e vitórias profissionais, encontram-se em um momento de descobertas e desafios, encarando o mundo sem ilusões românticas e enfrentando de peito aberto as complexidades da vida adulta.

Inspirada no sucesso da série “Sweet/Vicious” (2016), exibida pela MTV, Robinson constrói uma narrativa que desmonta idealizações, particularmente sobre a transição para a maturidade. A diretora cria uma atmosfera onde os clichês dos filmes de amizade e romance são explorados e subvertidos, traduzindo os ciclos da vida em uma linguagem que remete ao pensamento de Bauman, que expôs a fragilidade dos laços contemporâneos. Embora o filósofo polonês não seja mencionado, a essência de sua teoria permeia cada etapa do enredo.

A história se desenrola quando Jenny (Gina Rodríguez) e Nate (LaKeith Stanfield), que acabam de voltar de um show do rapper ASAP Rocky, vivem uma noite despreocupada em Nova York. Contudo, a euforia dá lugar a uma revelação: Jenny recebeu uma oferta para trabalhar como crítica musical na prestigiada revista “Rolling Stone”, em São Francisco. Esse novo capítulo, que deveria ser motivo de celebração, também marca o fim do relacionamento, uma vez que a distância parece uma barreira intransponível para o casal.

No que parecem ser seus últimos momentos juntos, Jenny e Nate se juntam a Blair e Erin, amigas de longa data da protagonista, interpretadas por Brittany Snow e DeWanda Wise, para aproveitar ao máximo a madrugada nova-iorquina. Em uma espécie de despedida melancólica, os quatro dançam, bebem e aproveitam a noite até o amanhecer. No entanto, a partir desse ponto, Robinson opta por se concentrar na relação entre as amigas, deixando Nate de lado e explorando os laços que as três personagens femininas compartilham em suas jornadas individuais.

Embora o filme ofereça cenas divertidas e intensas, há uma contradição na imagem de Jenny como nova articulista de uma grande publicação, uma profissional supostamente comprometida com seu futuro, mas que ainda busca escapar em festas e excessos. Nate, então, surge como uma figura quase simbólica — aquele que, ao menos temporariamente, dava a ela uma base e a impulsionava a refletir sobre o futuro, um papel que ela agora precisa assumir sozinha.

Para afastar a sensação de descompasso, a diretora utiliza alguns recursos técnicos que conferem autenticidade à trama. A trilha sonora de Germaine Franco inclui uma bela reinterpretação de “Moon River” por Audrey Hepburn, que evoca a nostalgia de um amor passado, enquanto flashbacks de Jenny e Nate mostram o casal em uma fase inicial, quando o amor e a ingenuidade pareciam oferecer uma felicidade mais pura e descomplicada. No fim, Robinson sugere que a vida adulta, mesmo cercada de relações significativas, pode exigir uma capacidade de lidar com a solidão.


Filme: Alguém Especial 
Direção: Jennifer Kaytin Robinson
Ano: 2019
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 8/10