Suspense na Netflix vai te fazer pensar duas vezes antes de considerar alguém seu amigo Divulgação / Netflix

Suspense na Netflix vai te fazer pensar duas vezes antes de considerar alguém seu amigo

Com direção de Kim Farrant e roteiro de Sarah Alderson, o filme “Naquele Fim de Semana” oferece um suspense intenso, onde o desaparecimento de uma mulher na Croácia transforma uma viagem de férias em uma investigação sombria. Leighton Meester, lembrada pelo papel de Blair em “Gossip Girl”, interpreta Beth, uma mãe americana que aceita o convite da amiga Kate (Christina Wolfe) para um final de semana glamoroso na Europa. Após uma noite de excessos, Beth acorda sozinha e encontra vestígios de sangue no apartamento que dividiam, sem nenhum sinal de Kate.

Sem conseguir contato com a amiga e alarmada com as pistas perturbadoras, Beth procura a polícia local, onde o investigador Pavic (Amar Bukvic) demonstra pouco interesse e até desdém pela situação. Desacreditada pelas autoridades, ela decide buscar respostas com o apoio do taxista muçulmano Zain (Ziad Bakri), lançando-se em uma investigação solitária. Confusa e com lacunas na memória da noite anterior, Beth suspeita que pode ter sido drogada.

Quando a polícia finalmente encontra o corpo de Kate, o caso toma uma nova dimensão. Mas os depoimentos de Beth, marcados por inconsistências, levam-na a ser vista como suspeita. A trama se desenrola em meio a múltiplos suspeitos e segredos, criando uma atmosfera de tensão onde cada personagem aparenta ter algum tipo de conexão com a vítima e um motivo oculto. Alderson molda essa narrativa em estilo reminiscentes de Agatha Christie, onde todos têm um papel obscuro na trama, mas a direção de Farrant vacila em momentos chave, o que compromete a consistência e a credibilidade de certas cenas.

Ainda que a história conte com reviravoltas frequentes que mantêm o espectador atento, o desfecho é previsível. Contudo, o maior desafio do filme não reside no final esperado, mas na forma como certas cenas são dirigidas, resultando em uma experiência que por vezes subestima o público. A narrativa sofre com atuações inconsistentes, e em alguns momentos, o tom parece desajustado.

O diferencial do filme, entretanto, está em sua abordagem narrativa. Adotando uma perspectiva feminina, Farrant explora o viés de descrédito e desconfiança lançado sobre Beth, realçando a frustração do público ao ver sua protagonista desacreditada constantemente. O filme aborda de forma incisiva como Beth é impactada pelo machismo estrutural, que a torna alvo de julgamentos pela conduta da noite anterior, marcada pelo uso de álcool e substâncias. A tensão é intensificada pela busca de Beth, e também do público, em decifrar as motivações ocultas de cada personagem, um elemento que torna “Naquele Fim de Semana” uma experiência cativante, ainda que imperfeita.


Título: Naquele Fim de Semana
Direção: Kim Farrant
Ano: 2022
Gênero: Drama/Policial/Suspense
Nota: 6/10

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.