Apenas 3 dias após sua estreia, suspense psicológico na Netflix já é o número 1 do Top 10 de 90 países Divulgação / Netflix

Apenas 3 dias após sua estreia, suspense psicológico na Netflix já é o número 1 do Top 10 de 90 países

Uma mulher, devastada pela perda de seu filho, decide encarar uma trilha desafiadora e escalar até o topo de uma montanha, planejando saltar para aliviar sua dor. No entanto, um estranho aparece e compartilha com ela uma história pessoal de sofrimento, levando-a a reconsiderar seu plano. “Pelo menos, hoje não”, ela responde, quando ele questiona se ela voltará ao penhasco após sua partida. “Eu me contento com hoje”, ele responde, satisfeito por ter evitado uma tragédia, ainda que temporariamente. Esses são os minutos iniciais de “Não Se Mexa”, suspense de Brian Netto e Adam Schindler, escrito por T.J. Cimfel e David White, recentemente lançado na Netflix e já líder no Top 10 mundial.

A trama muda de rumo quando a mulher, Iris (Kelsey Asbille), percebe que o desconhecido, Richard (Finn Wittrock), estacionou seu carro tão próximo ao dela que ela não consegue entrar. Ele se desculpa pelo bloqueio e se aproxima com um guarda-chuva em mãos. Ao vê-lo, ela pergunta: “Esperando chuva?”, e ele responde: “É sempre bom estar prevenido”. Logo em seguida, Richard aplica um choque que faz Iris desmaiar e, quando recobra a consciência, está com os pulsos e calcanhares presos no porta-malas de um carro. Com um canivete que levava no bolso, Iris consegue se libertar parcialmente e luta com Richard até que o carro colide com uma árvore em uma floresta à beira da estrada. Ela escapa, mas logo percebe que Richard a anestesiou, e seus movimentos estão prestes a ser bloqueados.

Com o pouco tempo que lhe resta antes do fármaco fazer efeito, Iris foge desesperadamente por uma área desconhecida. Durante a fuga, encontra um fazendeiro, Bill (Moray Treadwell), que a vê paralisada pela droga. Logo em seguida, Richard bate à porta de Bill, mas o fazendeiro, desconfiado, tenta agir com normalidade enquanto protege Iris.

Richard, apesar de sua frieza e experiência, comete um erro crucial ao não revistar os bolsos de Iris antes de prendê-la no porta-malas, o que resulta em pistas deixadas pelo caminho. Determinado a terminar o que começou, ele se vê obrigado a eliminar outras testemunhas que cruzam seu caminho. Entre essas vítimas estão Bill e um policial interpretado por Daniel Francis, que para Richard na estrada, apenas para ser eliminado. O motivo de Richard? Iris era uma vítima conveniente. No entanto, a trama levanta questões ao explorar como ele seleciona essas pessoas – vítimas traumatizadas, pessoas que, assim como ele, carregam dores do passado. Mas a história de Chloe, que Richard menciona como seu grande amor que morreu, é verdadeira ou mais uma mentira manipuladora? Esse mistério nunca é resolvido, e esse é um dos pontos em que o filme falha em aprofundar a complexidade dos personagens.

Esse enredo cria uma lacuna: nunca conhecemos a motivação exata de Richard. É um psicopata que cede aos seus impulsos? Ou alguém igualmente traumatizado, incapaz de lidar com sua dor de outra forma? Ele parece ter uma família alheia ao seu lado sombrio, mas o roteiro falha em explorar essas camadas. Com isso, “Não Se Mexa” acaba oferecendo uma conexão emocional limitada, já que o principal foco recai sobre a dinâmica de perseguição entre predador e presa.

O filme se revela mais como um jogo tenso de gato e rato, onde Richard se diverte com o terror de Iris, prolongando seu sofrimento, como um gato que tortura sua presa antes do golpe final.


Filme: Não se Mexa
Direção: Brian Netto e Adam Schindler
Ano: 2024
Gênero: Mistério/Crime
Nota: 8

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.