Viver de modo independente já é um desafio, mas para uma jovem dotada de um talento natural que homens experientes levam anos para desenvolver, a jornada se torna mais leve e, de certo modo, divertida. Ela lida com as questões de forma direta, como se espera dela. No quarto filme de Lee Chung-Hyun, o diretor sul-coreano reafirma seu domínio em provocar o público, explorando o desconforto com uma precisão ímpar.
Após o sucesso de “A Ligação” (2020), o cineasta retorna com “A Bailarina,” prendendo a atenção dos espectadores com cenas onde uma protagonista determinada busca vingança, evitando a mesma sorte trágica que acometeu uma amiga querida. Em uma narrativa que remete aos contos clássicos coreanos, como os de Jo Susam, a trajetória de Ok-ju, interpretada por Jeon Jong-seo, é marcada por uma luta feroz contra o destino que parece se impor sobre ela, até que atinja seu objetivo. Quando o fim da estrada se aproxima, talvez, ela possa vislumbrar outro caminho.
A trama se inicia em uma cena caótica: enquanto o balconista de uma loja distraidamente joga no celular, dois ladrões começam um furto, e só percebe o perigo quando se vê ferido. Ok-ju, que chega no momento, permanece impassível, pegando o troco diretamente das mãos do assaltante antes de iniciar uma sequência de ação brutal. Esse momento serve como abertura para o “balé” de combate, que se desenrola em golpes precisos, exibindo um lado oposto da atuação de Jeon comparado ao de “A Ligação.” Ali, ela evocava tensão em momentos prolongados de suspense; aqui, sua energia é visceral e direta.
A coreografia se entrelaça a uma cena de dança clássica, com uma vintena de garotas de branco, entre elas Choi Min-hee, a “bailarina” do título. Lee Chung-Hyun constrói a relação entre Ok-ju e Min-hee, sugerindo, sem deixar explícito, um vínculo profundo, talvez amoroso. A personagem de Jeon, uma ex-guarda-costas endurecida, contrasta fortemente com a fragilidade de Park Yu-rim, cuja delicadeza não consegue sobreviver às pressões do mundo. O coração da trama é a busca de Ok-ju por respostas sobre o que levou Min-hee ao suicídio, levando-a a Choi Pro, um cruel traficante de mulheres vivido por Kim Ji-hoon. A narrativa se intensifica quando justiceira e antagonista se confrontam em cenas de ação impactantes, revelando a crueza e a potência que definem o estilo visual e dramático de “A Bailarina”.
Filme: A Bailarina
Direção: Lee Chung-Hyun
Ano: 2023
Gêneros: Ação/Suspense
Nota: 8/10