Lançado em 2021, anti-faroeste da Netflix volta ao topo como o western mais assistido de 2024 David Lee / Netflix

Lançado em 2021, anti-faroeste da Netflix volta ao topo como o western mais assistido de 2024

Os personagens que se lançam em busca de vingança, impulsionados pelo desejo de restaurar a paz e defender a honra após um ato violento, permanecem uma constante no cinema. Essa abordagem é exemplificada em diversas obras que exploram o tema do acerto de contas, como “O Regresso” (2015), dirigido pelo renomado Alejandro González Iñárritu. No filme, um protagonista incansável mantém sua postura mesmo diante das adversidades mais brutais, representando uma narrativa poderosa de persistência em busca de justiça.

Por outro lado, o anti-herói de “Vingança e Castigo” segue uma rota diferente. Na estreia de Jeymes Samuel como diretor de longas, o filme traz uma abordagem instigante para o gênero faroeste, adicionando elementos que se destacaram entre as produções de 2021. Jonathan Majors brilha ao interpretar Nat Love, um líder de gangue marcado pelo assassinato brutal de seus pais. Com Idris Elba no papel do antagonista Rufus Buck, o filme explora uma tensão complexa e fascinante entre os personagens, especialmente quando Zazie Beetz se junta ao elenco como Stagecoach Mary, ex-amante de Nat, adicionando novas camadas ao drama que permeia o confronto final.

Na trama, Nat Love é simultaneamente atraente e perigoso, movendo-se entre a bondade e a vilania. Samuel faz uma homenagem discreta a personagens consagrados por Clint Eastwood, remetendo ao estilo das obras de Sergio Leone, como na icônica trilogia do oeste. Majors, em seu papel, evoca o equilíbrio entre o heroico e o sombrio, além de incorporar um viés racial que Samuel explora cuidadosamente ao compor um elenco majoritariamente negro, uma escolha que traz discussões sociais à tona, refletindo sobre preconceitos que atravessaram séculos de história americana.

A narrativa também evoca uma lembrança sutil de “Django Livre” (2012), de Quentin Tarantino, que desafia estereótipos, construindo uma visão de herói que ultrapassa os padrões tradicionais. Em seu filme, Samuel propõe que figuras negras na mídia podem ser tão complexas quanto qualquer outra, contribuindo para um diálogo mais amplo sobre representação e identidade. Ele compartilha essa visão com outros diretores negros, como Spike Lee e Ava DuVernay, que também ampliam o debate sobre racismo e preconceito com perspectivas próprias e autênticas.

Com referências a “Crime e Castigo” (1866) de Dostoiévski, Samuel se aprofunda na ideia do sofrimento como via de redenção, abordando a ambivalência moral de seu protagonista. A jornada de Nat Love não é apenas uma busca por vingança; é uma imersão em um contexto histórico carregado, onde a honra e a vingança se entrelaçam em um panorama sombrio. Samuel conecta seu filme ao niilismo que permeia a literatura russa, construindo uma história que, assim como o clássico literário, reflete uma visão de mundo marcada por uma humanidade dura, como a dos tempos representados.


Filme: Vingança & Castigo
Direção: Jeymes Samuel
Ano: 2021
Gêneros: Drama/Western Revisionista
Nota: 9/10