As tecnologias de inteligência artificial não conhecem a essência da vida. Construídas para imitar conceitos humanos, simulam o ciclo de vida e morte, que é justamente onde o filme “Atlas” começa a se desdobrar. A trama gira em torno de uma cientista mergulhada em experimentos com robôs e sistemas projetados para investigar formas de vida e ambientes habitáveis para a colonização espacial. Essa história ecoa elementos recorrentes na ficção científica das últimas décadas, mas a obra de Brad Peyton traz, em seu estilo, algo singular.
Inspirado por clássicos como “O Exterminador do Futuro” (1984), em que um androide volta no tempo para eliminar um potencial salvador da humanidade, Peyton explora o confronto entre duas inteligências artificiais, Smith e Harlan, com a heroína central emprestando seu nome ao título do filme. Jennifer Lopez encarna uma pesquisadora que, ao mesmo tempo determinada e vulnerável, luta para avançar em seu projeto monumental, mas acaba presa nas consequências das criações que ajudou a desenvolver. O roteiro de Aron Eli Coleite e Leo Sardarian enfatiza a influência de James Cameron ao retratar máquinas que, ao reproduzirem valores humanos, exibem ética ou desprezo conforme as conveniências – uma espécie de aprendizado torto, mas intensamente humano.
A ameaça da inteligência artificial à humanidade, prevista por muitos, parece cada vez mais próxima, projetando um futuro onde dispositivos e robôs, antes auxiliares silenciosos, transformam-se em adversários incansáveis, hostis e, paradoxalmente, carregados da mesma brutalidade de que a própria espécie humana é capaz. De fato, a história sugere que esses “tecno sapiens” absorvem e exacerbam ambições e rancores humanos acumulados ao longo de milênios de convivência e conflitos.
No ritmo frenético de nosso cotidiano digital, o tempo parece se distorcer; décadas podem dividir eras, com mudanças tecnológicas mais rápidas do que nossa capacidade de acompanhar. Nesse contexto, Coleite e Sardarian trazem à cena Casca Decius, o vilão interpretado por Abraham Popoola, cuja tirania interplanetária estimula Harlan, vivido por Simu Liu, a buscar poder sem precedentes. Esse ser impiedoso, embora limitado pela percepção que os humanos lhe atribuem, deseja devastar a vida como a entendemos, reforçando o conceito de uma guerra entre as facções tecnológicas e os humanos que as conceberam.
Assim como em “A Mãe” (2023), de Niki Caro, Lopez encarna uma figura obcecada e sacrificante, deixando de lado pequenos prazeres para perseguir um ideal maior, mas com consequências incertas. Em “Atlas”, Smith, dublado por Gregory James Cohan, é o aliado robótico fiel, uma tentativa de criar um equilíbrio em meio ao caos. Contudo, este personagem não atinge o grau de profundidade de obras como “Ex_Machina — Instinto Artificial” (2015), de Alex Garland, que questiona com mais precisão os perigos associados à criação de tecnologias que espelham e exageram nossas próprias urgências.
Filme: Atlas
Direção: Brad Peyton
Ano: 2024
Gêneros: Ficção científica/Drama/Ação
Nota: 7/10