Comédia romântica perfeita para um dia de domingo e para deixar o coração quentinho, na Netflix KC Bailey / Netflix

Comédia romântica perfeita para um dia de domingo e para deixar o coração quentinho, na Netflix

Manter nossas lembranças vivas é uma forma de eternidade. A vida, em sua essência, se desdobra nas memórias dos papéis que desempenhamos e nas pessoas que cruzam nossos caminhos. Cada uma dessas interações, independentemente de serem efêmeras ou duradouras, deixa marcas que permanecem em nossa alma. São pedaços de nós que se entrelaçam com as experiências dos outros, em um ciclo contínuo, onde tudo volta ao ponto inicial.

À medida que essas relações se desvanecem com o passar do tempo, elas se transformam, fundem-se ao mistério do universo, e geram novas realidades. Esse é o ciclo da existência: uma dança entre o finito e o eterno, onde a matéria se renova, floresce, e, em seu esforço final, se transforma em frutos que alimentam o corpo e o espírito. O ciclo recomeça, inexorável, trazendo consigo a promessa de renovação e continuidade.

Refletir sobre esse ciclo nos leva a questionar nossa própria mortalidade e o que realmente significa estar vivo. A jornada da vida é feita de encontros e despedidas, de navegarmos por mares revoltos a bordo de uma embarcação que muitas vezes parece sem direção. O que nos resta, como seres humanos, é lidar com essa travessia com coragem e aceitação.

No fundo, somos criaturas solitárias, perdidas na vastidão de nossos próprios pensamentos, sempre à procura de sentido em meio ao caos. Essa solidão se mistura à nostalgia — não só pelo que vivemos, mas, principalmente, pelo que imaginamos ter vivido. Como tartarugas ou baleias que, ao fim de suas longas vidas, já não distinguem a realidade dos sonhos, somos também poetas em busca de significado, tal como borboletas que, ao flutuar no vento, acreditam estar criando poesia.

O verdadeiro dom da humanidade talvez resida em sua habilidade de reconhecer suas limitações. Cada pessoa se esconde em suas próprias fortalezas emocionais, construídas ao longo do tempo como proteção contra a maldade do mundo. Nesses refúgios, armazenamos nossas solidões, viajamos para outros mundos e desejamos viver outra vida.

Pode levar uma eternidade, ou assim nos parece, para que as feridas abertas em nossas almas finalmente se curem, mas esse momento chega. E quando chega, nos oferece a oportunidade de abandonar velhos hábitos, deixar para trás os vícios e traumas que nos fazem acreditar que somos pessoas melhores, mas que, na verdade, só nos tornam mais amargos e frágeis. Essa transformação é o prelúdio para uma nova vida, livre das correntes que nos impediam de seguir em frente.

Essa trajetória de autodescoberta é central em “O Diário de Noel”, dirigido por Charles Shyer. O protagonista, consumido por suas próprias dores, enfrenta um momento decisivo de mudança. Algo em sua alma é profundamente tocado, iniciando o processo de libertação que lhe permitirá seguir em frente. Baseado no romance homônimo de Richard Paul Evans, publicado em 2017, o roteiro de Shyer, Rebecca Connor e David Golden tece uma narrativa que, apesar de brincar com pistas falsas e elementos de farsa, consegue manter o espectador cativado.

O título, por exemplo, sugere uma associação com o Natal, mas “Noel” aqui não é uma referência ao Papai Noel. Ela é a mãe de Rachel, a personagem de Barrett Doss, que embarca em uma jornada em busca de respostas sobre o paradeiro da mãe que a entregou para adoção.

A história se desenrola de maneira sutil, com a busca de Rachel por sua mãe se tornando o eixo central da trama. Mesmo sem capítulos marcados, há um ritmo quase episódico que conduz o enredo, criando uma sensação de suspense em torno de Noel e do que aconteceu com ela. Enquanto Rachel busca por sua mãe, a presença de Jacob, interpretado por Justin Hartley, se torna um contraponto emocional para ela.

Embora essa dinâmica entre os dois personagens siga um caminho previsível, é eficaz em manter a trama envolvente. “O Diário de Noel” não é uma simples história de Natal; é uma exploração profunda sobre a busca pelo passado e pelas verdades que moldam nossas vidas, repleta de momentos de dor e alegria que só a coragem de revisitar o passado pode trazer.


Filme: O Diário de Noel
Direção: Charles Shyer
Ano: 2022
Gêneros: Drama
Nota: 8/10