As tramas de ação frequentemente capturam uma dualidade arriscada. De um lado, oferecem sequências de perseguições intensas e conflitos ferozes que consomem a resistência do espectador, enquanto o herói luta contra ameaças implacáveis. Do outro, revelam uma crítica à nossa alienação dos elementos que sustentam a vida — os mares, florestas e a própria atmosfera, que negligenciamos em nome de um falso progresso. A insistência em uma exploração predatória nos empurra para um futuro sombrio, onde cada novo passo assemelha-se a avançar em uma rua vazia e sombria numa madrugada chuvosa, sem saber ao certo onde estamos ou como encontrar uma saída. Assim, resta-nos continuar essa jornada, na esperança de que um vislumbre de redenção nos acolha antes que o tempo se esgote.
Christopher McQuarrie explora essa tensão com maestria em “Missão: Impossível: Efeito Fallout” (2018). O filme combina a eletricidade de cenas de ação com um olhar atento sobre a ambição insaciável da humanidade. Enquanto Ethan Hunt tenta impedir o roubo de plutônio para evitar um desastre nuclear iminente, McQuarrie constrói um retrato de ganância extrema, onde o desejo por recursos minerais ultrapassa qualquer consideração pelo futuro da Terra. A direção afiada de McQuarrie, responsável por boa parte dos filmes da franquia, utiliza a linguagem visual e sonora para intensificar cada reviravolta, com sequências coreografadas meticulosamente, edição precisa e atuações fortes que conduzem a narrativa sem prolongamentos desnecessários.
Neste enredo, os Apóstolos, uma seita apocalíptica derivada do Sindicato, infiltram-se na FMI através do enigmático John Lark, que rouba o plutônio essencial para fabricar três bombas nucleares. Cabe ao agente Ethan Hunt recuperá-lo, mas o caminho o leva a confrontos acirrados com Solomon Lane, o perigoso vilão que havia poupado em uma missão anterior. Com as autoridades no encalço dos terroristas, a missão de Hunt ganha um novo nível de complexidade, levando-o a Paris, onde ele tenta, a qualquer custo, evitar uma catástrofe global iminente.
Personagens-chave da FMI também entram em cena: Erica Sloane, vivida por Angela Bassett, e August Walker, interpretado por Henry Cavill. Walker, inicialmente ambíguo, assume seu lado traiçoeiro, e seu embate com Hunt representa o coração de “Efeito Fallout”. Enquanto Hunt surge como uma figura isolada e em constante conflito interno, Walker se esconde por trás de uma fachada de heroísmo, apenas para perseguir suas intenções maliciosas. Ao final, depois de um confronto decisivo onde ambos destroem os helicópteros um do outro, o filme fecha com clareza: cada personagem ocupa seu devido lugar, consolidando um desfecho satisfatório.
Filme: Missão: Impossível — Efeito Fallout
Direção: Christopher McQuarrie
Ano: 2018
Gêneros: Ação/Aventura/Drama
Nota: 10