Últimos dias para assistir ao maior sucesso da carreira de Brad Pitt, que arrecadou quase 3 bilhões de reais nas bilheterias, na Netflix Jaap Buitendijk / Paramount Pictures

Últimos dias para assistir ao maior sucesso da carreira de Brad Pitt, que arrecadou quase 3 bilhões de reais nas bilheterias, na Netflix

Um surto global, completamente inesperado, espalha-se pela Terra, transformando seres humanos em criaturas semelhantes a zumbis com uma rapidez devastadora. O caos se instala, e a humanidade se vê indefesa diante de uma pandemia sem precedentes. Nesse cenário, surge a intervenção do governo dos Estados Unidos, que recruta um ex-agente da ONU, agora vivendo tranquilamente como um pai de família, para enfrentar a calamidade e garantir a sobrevivência da espécie.

Baseado na obra homônima de Max Brooks, “Guerra Mundial Z” adota a abordagem de complicar o enredo em vez de oferecer explicações claras. Sob a direção de Mark Forster, a história é construída a partir de um roteiro colaborativo de quatro escritores, incluindo Matthew Michael Carnahan, conhecido por dirigir “Mosul” (2019), uma obra impactante sobre a atuação das forças americanas no Iraque entre 2003 e 2011.

O filme combina uma variedade de temas complexos, como a preservação ambiental, teorias da conspiração com viés religioso, tráfico de órgãos na Alemanha e a irresponsabilidade de companhias aéreas que mantiveram seus voos, contribuindo para a rápida propagação de um vírus letal — uma cepa híbrida de meningite, varíola e H1N1. Forster constrói uma narrativa aparentemente despretensiosa, com toques de absurdo, onde a intenção de entreter sobrepõe-se a qualquer base científica rigorosa, o que, por sinal, não era essencial na obra original de Brooks.

Com o desenrolar da trama, fica claro que a infestação zumbi serve como uma metáfora para temas considerados essenciais pelo diretor. Com um orçamento robusto de duzentos milhões de dólares, Forster utiliza o prólogo para apresentar uma série de imagens deslumbrantes: o sol se erguendo sobre o mar, abelhas trabalhando em harmonia numa colmeia, bandos de pássaros cruzando o céu, tudo em contraste com o ritmo frenético da vida em Nova York, onde as pessoas, ricas ou pobres, vivem apressadas, focadas em seus próprios interesses.

A maré vira quando um noticiário local relata o encalhe de cetáceos em uma praia na Costa Oeste, um prenúncio discreto, mas perturbador, que sugere ao público a iminência de uma catástrofe. Entretanto, o verdadeiro caos se manifesta após uma detalhada apresentação da casa da família Lane, com Gerry (Brad Pitt) no papel de anfitrião.

Pitt interpreta Gerry, um homem que trocou uma carreira promissora nas Nações Unidas por uma vida pacata ao lado de sua esposa Karin (Mireille Enos) e seus filhos. No entanto, os acontecimentos o forçam a retomar seu antigo papel, desta vez enfrentando uma ameaça muito mais perigosa do que ele poderia imaginar. Um momento crucial ocorre quando, em plena Quinta Avenida, um policial em uma moto destrói o retrovisor de seu carro. Esse evento marca o início de uma série de encontros com criaturas monstruosas, que mais tarde invadem o Lower East Side e, em uma das cenas mais icônicas, escalam uns sobre os outros para superar barricadas em Israel, semelhante a uma infestação de baratas.

Alguns críticos interpretam “Guerra Mundial Z” como uma crítica indireta de Hollywood à administração de George W. Bush (2001—2009). No entanto, acredito que a obra aponta para ameaças muito maiores do que qualquer político irrelevante, seja ele americano ou de outra nação — e a pandemia de Covid-19, que se estendeu de março de 2020 a maio de 2023, é uma prova disso. Como dizia Churchill, temos ao menos um antídoto moderadamente eficaz contra demagogos e tiranos que buscam tirar proveito das massas. Já em relação a mutações invisíveis e incontroláveis, o desafio é imensuravelmente mais complexo.

O filme oferece, assim, um mosaico de reflexões sobre questões contemporâneas, muitas vezes escondidas sob o manto do entretenimento. Apesar da ficção aparentemente exagerada, “Guerra Mundial Z” reflete, de maneira tangencial, os medos e incertezas que a humanidade enfrenta ao lidar com crises globais, seja na saúde pública ou nas esferas políticas. O que Mark Forster entrega é uma obra que, embora repleta de ação e cenas grandiosas, também carrega uma mensagem subliminar sobre a fragilidade da civilização diante de forças além de seu controle.


Filme: Guerra Mundial Z
Direção: Marc Forster
Ano: 2013
Gêneros: Terror/Ação
Nota: 8/10