Ainda há quem valorize algo além de aparências, status e bens materiais, buscando um relacionamento com base na essência de alguém, algo raro em meio ao peso das opiniões externas. Esse tipo de postura enfrenta obstáculos, especialmente de pessoas que, sem um norte próprio, consideram polêmico o amor entre dois indivíduos que, à primeira vista, parecem incompatíveis. É esse enfrentamento diário, quase heroico, que dois amantes precisam encarar para manter seu vínculo intacto, provando sua devoção sob o olhar implacável da sociedade.
“Ela É Demais Para Mim” explora essa questão em uma trama leve, mas perspicaz, onde preconceitos e conceitos distorcidos sobre o amor recaem sobre um protagonista gentil, inteligente e um tanto cético quanto à ideia de um destino amoroso. A narrativa conduz o público a simpatizar com esse personagem atrapalhado e torcer por ele, especialmente quando situações inusitadas ameaçam seus objetivos. Dirigido por Jim Field Smith e com roteiro de Sean Anders e John Morris, o filme revela nuances de um homem que acredita não ser digno de certos privilégios, uma visão que o roteiro quebra ao colocar o espectador ao lado dele em sua jornada.
Kirk, o protagonista, aceita sem questionar sua autoavaliação como um “cinco” numa escala absurda de atratividade, alimentada por amigos de bom coração, mas limitados, que passam por uma evolução própria ao longo da trama, conferindo-lhe um toque natural que outros filmes similares não conseguem. Kirk, um inspetor da TSA, o órgão de segurança de transportes dos EUA, trabalha no aeroporto de Pittsburgh, onde seu papel de vigiar passageiros lhe oferece um breve alívio para sua angústia pessoal. A atuação de Jay Baruchel empresta ao personagem uma combinação de idealismo e autocrítica que cativa o espectador.
A interação de Kirk com seu colega Manchado, interpretado por T.J. Miller, se destaca; o solteirão com quem troca diálogos quase filosóficos oferece um contraponto irônico e humorístico. No entanto, quando uma mulher de aparência marcante, Molly, deixa seu telefone na área de segurança, Kirk sente uma faísca de mudança em sua rotina solitária. A história se aprofunda nas cicatrizes emocionais que ele carrega, amplificadas pela presença constante de sua ex, Marnie, trabalhada por Lindsay Sloane, que também atua no aeroporto, um ponto fraco da trama.
Molly, interpretada por Alice Eve, age com paciência e compreensão, desenvolvendo uma química interessante com Kirk. Em uma cena íntima, a personagem mostra a Kirk uma pequena imperfeição física, simbolizando a temática do filme sobre aceitação e autenticidade. Ao final, “Ela É Demais Para Mim”, na Netflix, apesar do título sugestivo, conclui com uma mensagem sobre empatia e respeito próprio. Os diálogos inteligentes e cômicos promovem uma reflexão leve e eficiente, quase como uma terapia sobre reconhecer os defeitos próprios e dos outros sem perder o encanto da convivência.
Filme: Ela É Demais Para Mim
Direção: Jim Field Smith
Ano: 2010
Gêneros: Comédia/Romance
Nota: 9/10