Desde tempos antigos, eventos de teor sombrio e brutal capturam a atenção do público, tornando-se obsessão no cinema. Décadas após o falecimento de Agatha Christie (1890-1976), suas obras seguem inspirando novas criações que atraem o público pela observação, lógica, e até pela tensão visceral. Sob a perspectiva dela, um corpo na areia deserta de uma praia seria uma narrativa irresistível, ideia que provavelmente influenciou Małgorzata Oliwia Sobczak ao compor seu thriller de 2019, “Czerwień” (“vermelho” em polonês), marcado pelo suspense e pela astúcia.
Cinco anos mais tarde, Adrian Panek transpôs a essência do mistério literário de Sobczak para o filme “As Cores do Mal: Vermelho”, oferecendo uma cadeia de viradas inesperadas que culminam em uma solução desconcertante. Ao lado de Lukasz M. Maciejewski, Panek reinterpreta o livro para explorar a rede de intrigas entre o poder, autoridades desonestas e as sombras do crime, sem deixar de imprimir seu próprio estilo. Mesmo quando a trama parece prender-se em detalhes, o diretor mantém um equilíbrio único entre homenagem e inovação.
No coração de Tricidade, na voivodia da Pomerânia, norte da Polônia, o detetive Leopold Bilski é encarregado de investigar uma possível morte criminosa. Nessa região costeira entre Gdansk, Gdynia e Sopot, apenas o mar Báltico guarda os últimos momentos de Monika Bogucka. A partir de uma sequência de flashbacks, vemos Monika em uma boate, e Bilski começa a desconfiar de que sua morte envolve segredos mais obscuros que a polícia gostaria de revelar.
Mesmo sem se cruzarem diretamente, os personagens de Jakub Gierszał e Zofia Jastrzębska permeiam todo o primeiro ato, enquanto a audácia de Monika lança luz sobre seu trágico destino. Jastrzębska encarna sua protagonista com uma mistura de doçura e arrogância, atributos que a conduzem a um desfecho perturbador: seu corpo, abandonado de bruços na praia pedregosa, revela a ausência dos lábios ao ser virado.
O cineasta cria uma atmosfera de mistério em torno da morte de Monika ao introduzir Helena Bogucka na narrativa, uma figura talvez mais enigmática que a própria vítima. Mãe da jovem e figura influente em Tricidade, Helena torna-se a aliada crucial para Bilski, e as cenas compartilhadas entre Maja Ostaszewska e Gierszał são memoráveis. Carregadas com a marca sombria dos contos de Christie, essas sequências revelam uma tensão digna de um thriller clássico, envolvente e imersivo, ainda que sem grandes inovações, mas eficaz em seu apelo sensorial.
Filme: As Cores do Mal: Vermelho
Direção: Adrian Panek
Ano: 2024
Gêneros: Drama/Suspense/Policial
Nota: 8/10