Mike Nichols (1931-2014) foi um criador versátil que dedicou-se intensamente tanto ao teatro quanto ao cinema, movido por sua paixão pelas artes dramáticas. Nascido como Michael Igor Peschkowsky, precisou abandonar a Berlim de sua infância em 1939, aos oito anos, ao lado dos pais, Paul e Brigitte, e do irmão, Robert, para fugir da perseguição nazista. Como judeus, os Peschkowsky buscaram refúgio nos Estados Unidos, onde Nichols pôde construir uma nova identidade e explorar seu talento na América.
A trajetória de Nichols foi marcada por conquistas notáveis, recebendo as premiações mais prestigiadas das artes americanas — Oscar, Emmy, Grammy e Tony. Seu nome ganhou visibilidade com “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?”, adaptado do texto de Edward Albee, e em 1967 foi laureado com o Oscar de Melhor Diretor por “A Primeira Noite de um Homem”. Seu talento expandia-se a cada novo trabalho, fortalecendo uma sensibilidade que o destacava entre artistas, consolidando sua posição na indústria do entretenimento.
Em “Closer”, lançado no Brasil em 2005, Nichols examina as complexas relações humanas, revelando as camadas mais obscuras e sutis do desejo e da manipulação. Os protagonistas, Dan, Alice, Anna e Larry, exploram dinâmicas instáveis, que os transformam de casais em uma espécie de quadrilha emocional, movidos por um impulso destrutivo que culmina em mentiras, traições e autossabotagem. Esses personagens trocam confidências sem reservas e suas interações provocam um espetáculo impactante, retratando uma Londres onde as ambições e vaidades se cruzam em um cenário impiedoso.
O vínculo entre Dan e Alice, embora atravessado por intrigas, sugere um sentimento genuíno, que se mantém mais íntegro em comparação à conexão corrosiva entre Larry e Anna. O desdobramento dos relacionamentos lembra as ideias de Arthur Schopenhauer, que apontava o homem como refém de uma visão limitada da realidade. Dan representa essa limitação ao perceber tarde demais o valor de Alice, após envolver-se em um jogo emocional onde declarações de amor são trocadas sem sinceridade.
A personagem de Natalie Portman, Alice, emerge como a figura central em “Closer”. No início, sua imagem frágil pode parecer vulnerável, mas ao longo da trama, ela se revela como a força mais resiliente, o pilar que mantém o equilíbrio entre os quatro personagens. Com um domínio expressivo raro, Portman transforma cada cena com olhares e nuances que conectam o público à sua experiência. Alice, mesmo trabalhando como stripper, preserva uma maturidade que contrasta com os comportamentos impulsivos de Dan, Larry e Anna, mostrando-se alheia à superficialidade e à perversão que os rodeia.
A rejeição e a superação fazem parte da história de Nichols, que enfrentou a exclusão desde jovem ao escapar da Alemanha nazista. Reconhecido por seu talento, ele foi ovacionado ainda na juventude, mas também conheceu o esquecimento. “Closer” talvez tenha servido como uma reafirmação de seu valor artístico. Nichols, falecido em 2014, continua presente em obras que o mantêm em nossa memória coletiva, oferecendo uma visão única sobre a condição humana e nossas próprias fragilidades.
Filme: Closer
Direção: Mike Nichols
Ano: 2004
Gêneros: Drama/Romance
Nota: 8/10