O retorno épico de Sophia Loren em um filme que vai tocar seu coração — inspirado em livro que vendeu 10 milhões de cópias Regine de Lazzaris / Netflix

O retorno épico de Sophia Loren em um filme que vai tocar seu coração — inspirado em livro que vendeu 10 milhões de cópias

A trajetória do cinema no século passado se entrelaça com a vida de Sophia Loren, nascida Sofia Villani Scicolone. Dona de uma beleza magnética, seu carisma foi notado logo aos 15 anos, quando estreou em um concurso de beleza, em 1950. Orientada pelo marido, o diretor Carlo Ponti, Loren adaptou seu nome, adequando-o ao gosto anglófono da época. Contudo, o reconhecimento veio não por sua aparência, mas pela determinação em alcançar papéis que realmente valorizassem seu talento. Esse empenho a levou a se tornar a atriz principal de “Duas Mulheres” (1960), papel que lhe rendeu o Oscar de Melhor Atriz, após persistir para convencer o cineasta Vittorio De Sica de que era a escolha ideal.

Pilar da arte dramática, Loren acumula sete décadas de atuação, pautada por um rigor que impressiona. Relatos dizem que, mesmo febril, é capaz de entregar performances impecáveis, o que a levou a afastar-se por longos períodos, apenas retornando ao cinema quando encontrava papéis de relevância. A atriz mantém uma integridade que transcende os desafios de envelhecer em uma indústria que muitas vezes dá prioridade à imagem. Em “Rosa e Momo”, lançado em 2020, Loren alia um retorno triunfante à direção de seu filho, Edoardo Ponti. A obra, baseada no romance de Romain Gary, explora o legado de Madame Rosa, uma sobrevivente do Holocausto que enfrentou uma vida marcada pela prostituição e que, já idosa, passa a cuidar de filhos de colegas de profissão, desamparados pelo destino e pelo sistema. Rosa, no entanto, enfrenta dificuldades emocionais profundas ao tentar manter um ambiente seguro para os menores sob seus cuidados.

Na pele da protagonista, Loren oferece uma interpretação comovente, encarnando uma Madame Rosa rígida, sarcástica e com uma sensibilidade que esconde profundas cicatrizes. A chegada de Momo, um jovem senegalês com passados e traumas próprios, marca o ponto de virada. Órfão, muçulmano e desconectado de suas raízes culturais, Momo tenta sobreviver às margens da sociedade. Essa dupla improvável cria uma conexão complexa e significativa, entrelaçando seus traumas e perspectivas de sobrevivência. Ao longo da trama, a figura de Lola, vivida por Abril Zamora, uma personagem trans que personifica força e ternura, representa um alicerce adicional para ambos.

A relação entre Madame Rosa, Momo e Lola compõe o coração do filme, oferecendo um enredo que mistura resiliência e esperança em meio à dor. Loren, com sua longa carreira, reflete sobre a passagem do tempo sem abrir mão de sua vitalidade e integridade. O desfecho de “Rosa e Momo” relembra a efemeridade da vida, mas celebra a presença inesquecível de uma atriz que, mesmo na maturidade, continua a deslumbrar.


Filme: Rosa e Momo
Direção: Edoardo Ponti
Ano: 2020
Gênero: Drama
Nota: 9/10