Inspirado na vivência real do roteirista Chris Roessner, o filme “Castelo de Areia” retrata a trajetória de uma unidade de infantaria enviada à cidade de Baqubah, no Iraque. Lá, os soldados enfrentam a difícil missão de reparar uma tubulação de água destruída por bombardeios, crucial para a sobrevivência dos habitantes locais. Além de lidar com a escassez de recursos hídricos, o grupo se depara com a hostilidade dos moradores e se vê em meio a conflitos sectários entre sunitas e xiitas.
Chris Roessner ingressou no exército em 2001, coincidentemente no ano em que as operações militares no Oriente Médio se intensificaram após os atentados de 11 de setembro. Tendo se alistado meses antes do trágico acontecimento, seu objetivo era apenas acumular recursos para financiar seus estudos universitários. Dois anos depois, e após cumprir algumas missões, a divisão da qual fazia parte recebeu a incumbência que viria a ser retratada no longa-metragem.
Ao escrever o roteiro, Roessner optou por não transformar Matt Ocre (vivido por Nicholas Hoult), seu alter ego na história, em um herói típico. Em vez disso, criou uma narrativa que expõe o cotidiano e os desafios de seu pelotão durante a perigosa e inesperada operação. Seu foco estava em representar fielmente seus companheiros, destacando a coletividade ao invés de centrar a trama em si mesmo. Sob o comando do sargento Harper (Logan Marshall-Green), o grupo inclui também Chutsky (Glen Powell), Enzo (Neil Brown Jr.), Burton (Beau Knapp) e Carter (Anthony Welsh).
Dirigido pelo brasileiro Fernando Coimbra, o filme conta com a cinematografia em tons suaves de Ben Richardson, que nos transporta para o cenário árido e inóspito que aguarda os soldados. Conscientes da gravidade e dos riscos de sua missão, eles não apenas enfrentam o árduo trabalho de reparar encanamentos obsoletos, cujas peças já não são mais fabricadas, mas também a resistência de uma comunidade que desaprova sua presença.
A narrativa nos permite acompanhar de perto a rotina desses jovens militares, que, apesar do medo e da insegurança diante da tarefa, prosseguem motivados pelo senso de dever. Logo no início, Ocre tenta escapar de suas obrigações ao machucar intencionalmente a própria mão, na esperança de ser dispensado do serviço. Seu plano, porém, fracassa, e ele é designado para um posto ainda mais perigoso.
Diariamente, a unidade percorre um trajeto de três horas até a estação de água, onde enche um caminhão-pipa para, em seguida, retornar à cidade e distribuir o recurso entre os moradores. Após a distribuição, retornam à estação para trabalhar nos reparos da tubulação. O caminho é pontuado por armadilhas e emboscadas organizadas por grupos civis que desejam expulsá-los ou eliminá-los. Enquanto cumprem a tarefa determinada pelas autoridades, avançando lentamente em meio a inúmeros obstáculos, os soldados convivem com a constante sensação de que cada momento pode ser o último.
Em entrevistas, Roessner revelou sentir uma mistura de orgulho e tristeza em relação ao filme. Orgulho por conseguir levar sua história às telas e tristeza por não conseguir se distanciar emocionalmente do que é retratado, já que se trata de sua própria vida. Essa dualidade reflete a complexidade de expor experiências pessoais tão intensas e profundas.
No desenrolar da trama, o roteirista também explora a relação distante com o pai, que abandonou a família quando ele tinha apenas seis anos. Após os eventos vividos e retratados no filme, Roessner compreendeu que seu alistamento não foi motivado apenas pelo desejo de financiar a faculdade, mas também por uma tentativa inconsciente de se reconectar com o pai, que também serviu em uma guerra. O reencontro entre os dois ocorreu após seu retorno aos Estados Unidos.
Para Fernando Coimbra, um dos aspectos mais cativantes do projeto foi a possibilidade de abordar um problema específico e local. Diferente de muitas produções do gênero, que se concentram exclusivamente em batalhas e mortes, este filme dedica atenção especial às relações humanas. Mostra como os soldados, ao compartilharem longos períodos juntos, isolados e enfrentando as mesmas dificuldades, formam laços que se assemelham aos de uma família. Além disso, a obra explora profundamente a interação entre os militares e a população local, evidenciando as tensões e empatias que surgem dessa convivência forçada.
Filme: Castelo de Areia
Direção: Fernando Coimbra
Ano: 2017
Gênero: Guerra/Ação/Biogragia/Drama
Nota: 8/10