Com Ethan Hawke, romance inspirado em história real é uma dos romances mais fofos da Netflix Divulgação / Mongrel Media

Com Ethan Hawke, romance inspirado em história real é uma dos romances mais fofos da Netflix

Sob a condução primorosa da diretora Aisling Walsh, “Maudie: Sua Vida e Sua Arte”, disponível na Netflix, revela a extraordinária trajetória de Maud Lewis, uma pintora canadense do século 20, por meio de um roteiro envolvente assinado por Sherry White. A narrativa se desenrola na Nova Escócia, nos gelados anos 1930, onde a protagonista, Maud Dowley (Sally Hawkins), luta contra os obstáculos impostos pela artrite reumatoide e a pobreza. Após perder os pais, ela passa a viver sob a tutela rígida de sua tia Ida (Gabrielle Rose), enquanto seu irmão Charles (Zachary Bennett), pressionado por dívidas, vende a casa da família, deixando Maud em uma situação vulnerável e sem perspectivas.

Tratada de forma infantilizada e desprezada por aqueles ao seu redor, Maud não se deixa abater pelas dificuldades. Com sua natureza sonhadora e um espírito resiliente, ela busca uma saída para sua condição de dependência. Ao ver um anúncio de trabalho, Maud se oferece para ser empregada doméstica de Everett Lewis (Ethan Hawke), um pescador rude e de poucas palavras. Em troca de moradia e um pagamento mínimo, ela aceita a oferta, apesar da recepção hostil. No primeiro dia, é demitida por Everett, que, irritado com sua presença, tenta afastá-la. Contudo, na manhã seguinte, ela retorna silenciosamente e retoma suas tarefas, demonstrando uma força de vontade inabalável. A atitude inesperada surpreende Everett, que, relutantemente, permite que Maud continue no emprego.

Conforme os dias se passam, a relação entre os dois, inicialmente marcada pela desconfiança, começa a se transformar. Maud, com sua sensibilidade artística, passa a pintar os móveis e paredes da pequena casa, utilizando cores vibrantes e motivos florais, dando ao ambiente um ar acolhedor. Embora Everett não compreenda totalmente sua arte, ele não interfere, impondo apenas uma regra curiosa: que ela não toque em suas botas. Os pequenos gestos de Maud acabam suavizando a austeridade de Everett, e a conexão entre eles se aprofunda, evoluindo para um relacionamento que, embora estranho aos olhos de muitos, faz sentido para ambos.

O casamento entre Maud e Everett é uma extensão dessa convivência inusitada. Sem grande cerimônia, o laço se formaliza, mas não sem dificuldades. O passado de Maud, marcado pela dor da perda de uma filha logo após o parto, vem à tona, revelando as cicatrizes emocionais que ela carrega. A reação de Everett a essa revelação é inicialmente fria, porém, em sua maneira peculiar, ele começa a demonstrar afeto e cuidado, como ao gastar parte de seu ganho modesto para satisfazer pequenos desejos de Maud ou ao instalar uma porta de tela para agradá-la.

Com o tempo, Maud encontra na pintura uma forma de expressão e um caminho para a liberdade. Seus quadros simples e cheios de vida começam a chamar atenção, ganhando espaço em jornais, revistas e programas de televisão. A casa humilde que antes servia apenas como cenário para a rotina dura do casal agora se torna o centro da produção artística de Maud, que continua a criar mesmo com as limitações físicas impostas pela artrite. O sucesso, no entanto, não altera sua essência nem a de Everett. Ambos permanecem vivendo de forma modesta, mas satisfeitos, com Maud se tornando uma figura reconhecida, sem jamais abandonar a simplicidade que a define.

A história de Maud Lewis, além de ser um tributo à força de uma mulher que transformou sua dor em arte, é também uma reflexão sobre a forma como o amor pode se manifestar nas situações mais inesperadas. A relação entre Maud e Everett, repleta de momentos de tensão e afeto, mostra que a felicidade pode ser encontrada mesmo nas circunstâncias mais adversas. O filme, em seu tom delicado e intimista, conduz o espectador por uma jornada emocional profunda, onde o talento e a resiliência de uma artista emergem em meio à adversidade. O resultado é um drama comovente e inesquecível, que celebra a vida e a obra de Maud Lewis com sensibilidade e beleza.


Filme: Maudie: Sua Vida e Sua Arte
Direção: Aisling Walsh
Ano: 2016
Gênero: Drama/Romance
Nota: 9/10