A história real de amor e crime devastadora que está na Netflix Divulgação / Netflix

A história real de amor e crime devastadora que está na Netflix

Uma pesquisa recente revela que, na década de 1930, a maioria dos casais se conhecia por meio da família (22,62%), da escola (22,21%) ou de amigos (19,93%). Em 1988, muitos dos entrevistados afirmaram ter conhecido seus cônjuges por meio de amigos (26,71%), no trabalho (15,67%) ou em restaurantes e bares (14,63%). Já em 2024, segundo a mesma pesquisa, que ganhou repercussão nas redes sociais nas últimas semanas, a maioria dos casais relatou ter se conhecido online (60,76%), através de amigos (13,86%) ou no ambiente de trabalho (8,48%). Esses números refletem uma transformação significativa nas relações sociais, evidenciando que hoje grande parte das pessoas se conhece por meio da internet.

A internet oferece vantagens e desvantagens, como qualquer aspecto da vida. Uma das mais graves é a dificuldade de saber se a pessoa com quem estamos conversando é realmente quem afirma ser. Com a ascensão das interações virtuais, novos tipos de crimes e golpes também surgiram. Agora, muitos crimes são cometidos de forma digital: roubo de contas bancárias por meio de transações fraudulentas, estelionato e fraudes online. Entre esses delitos, um dos mais comuns é o “catfishing”, uma forma de falsidade ideológica virtual.

No catfishing, alguém cria uma falsa identidade online, usando fotos e dados de terceiros para enganar uma pessoa. É esse o tema central do documentário “Meu Querido Bobby”, disponível na Netflix. Não é spoiler dizer que a protagonista e vítima, Kirat Assi, é alvo de um golpe de catfishing, já que o título original da produção é “Sweet Bobby: My Catfish Nightmare”. A obra narra desde o começo da história, quando Kirat, uma radialista britânica de origem indiana e raízes na comunidade Sikh, termina um relacionamento e inicia uma amizade no Facebook com quem acredita ser Bobby Jandu, um médico.

Ao longo de oito anos, Kirat desenvolve uma relação profunda com essa pessoa, com quem mantém contato diário. Bobby a insere em seu círculo familiar online, e a dependência emocional de Kirat cresce a ponto de afetar diversos aspectos de sua vida. Ela perde o emprego, afasta-se dos amigos devido ao ciúme possessivo de Bobby e chega ao ponto de dormir ouvindo suas conversas. Porém, tudo não passava de uma farsa meticulosamente criada por uma parente de Kirat. Essa pessoa construiu mais de 60 perfis falsos na internet, assumindo a identidade de Bobby e de todos aqueles que Kirat conheceu por meio dele.

O golpe foi engenhoso, usando fotos e informações de pessoas reais para criar uma rede de mentiras que envolveu Kirat completamente. Os detalhes eram tão convincentes que até a família de Kirat acreditou que ela estivesse noiva de Bobby. O documentário expõe o quão minuciosa e psicologicamente devastadora foi essa trama, e como a verdade só veio à tona quando Kirat contratou um detetive particular para descobrir onde seu suposto noivo morava. Ao encontrar a casa de Bobby, ela se deparou com um homem casado, pai de família, que não tinha ideia de quem ela era ou de como ela sabia tanto sobre sua vida pessoal.

A narrativa, que parece saída das páginas de um suspense policial, é um exemplo real e assustador de como o catfishing pode destruir vidas. Embora o caso de Kirat tenha chocado pela sua complexidade, golpes de catfishing são mais comuns do que se imagina, e muitas vezes envolvem perdas financeiras, além do dano emocional. O documentário alerta para os perigos das relações online e a facilidade com que criminosos podem manipular e enganar pessoas ao esconderem suas verdadeiras identidades.

Se a internet, por um lado, facilitou o encontro de pessoas ao redor do mundo, permitindo que elas se apaixonassem, trocassem experiências de vida, fizessem amigos e viajassem, por outro lado, ela também criou um terreno fértil para os golpistas. Portanto, é essencial redobrar o cuidado com quem nos relacionamos online e manter sempre a vigilância sobre os limites entre a realidade e as ilusões virtuais.

O caso de Kirat não é isolado, e o documentário serve como um aviso para a era digital em que vivemos. À medida que a tecnologia avança, também avançam os métodos usados por criminosos para se aproveitar da vulnerabilidade emocional e da confiança das pessoas. O alerta é claro: nem tudo que vemos ou ouvimos online é o que parece.


Filme: Meu Querido Bobby
Direção: Lyttanya Shannon
Ano: 2024
Gênero: Documentário
Nota: 8

Fer Kalaoun

Fer Kalaoun é editora na Revista Bula e repórter especializada em jornalismo cultural, audiovisual e político desde 2014. Estudante de História no Instituto Federal de Goiás (IFG), traz uma perspectiva crítica e contextualizada aos seus textos. Já passou por grandes veículos de comunicação de Goiás, incluindo Rádio CBN, Jornal O Popular, Jornal Opção e Rádio Sagres, onde apresentou o quadro Cinemateca Sagres.