Bandidos são, quase sempre, cheios de problemas de autoafirmação que remontam à convivência com os pais e professores. Essas figuras a um passo da absoluta falência moral rondam-nos, como o lobo à procura de carne fresca, até que, no primeiro descuido, dão o bote e destroçam o que veem pela frente, às vezes com algum critério, às vezes até com alguma classe, mas deixando claro que são eles os líderes da alcateia, que qualquer movimento em falso pode ser o último. Em “Irmãos”, Max Barbakow lança mão desse argumento, mas de forma a apresentar um lado menos óbvio de John Thomas e Michael Munger, os dois delinquentes que tentam o golpe perfeito para uma aposentadoria longeva. Este filme vesano é mais uma prova de que o besteirol nunca morre, antes se reinventa, dispondo dos bons talentos que têm à mão, nunca satisfeitos em fazer apenas o que lhes é pedido.
A luta pela sobrevivência impele-nos a assumir uma postura mais agressiva diante dos outros e esse personagem não demora a ser incorporado à nossa natureza, com a providencial ajuda das várias dificuldades que se agigantam nos cenários extremos em que a vida, caprichosa e vingativa, transforma-se numa arena onde se chega para matar ou para morrer. Indivíduos são esbulhados de seu arbítrio e de sua sensibilidade e se convertem num prolongamento da consciência coletiva, não pensam mais pela própria cabeça e veem-se obrigados a se submeter a expedientes os mais vis, não por covardia, mas por não poderem contar com ninguém. As diferenças e conflitos de dois irmãos fora da lei, depois que cada um toma seu próprio rumo.
John Thomas, o Jady, de Peter Dinklage, parece muito confortável em seu ofício, tramando esquemas para chegar à fortuna fácil, ao passo que Michael, o Moke, afastou-se ao submundo há algum tempo, mas se vê obrigado a voltar — com Jady, claro —, para que os dois tenham a chance de, juntos, surrupiar um lote de esmeraldas. Misturando humor e toques meio piegas, mas envolventes, o roteiro de Etan Cohen e Macon Blair investiga o passado dos protagonistas num divertido flashback, e quando a narrativa avança, Dinklage e Josh Brolin refinam o show, com a saborosa participação de Glenn Close na pele de Cath, a mãe igualmente bem malandra da dupla.
Filme: Irmãos
Direção: Max Barbakow
Ano: 2024
Gênero: Comédia
Nota: 8/10