Após jornadas exaustivas, as noites geladas trazem um silêncio em que a cama se transforma em um imenso oceano de lençóis brancos, onde apenas o cansaço físico auxilia no adormecer. Contudo, há instantes em que a solidão deixa de ser sutil e revela seu lado mais agressivo, sabendo exatamente como nos alcançar. “Amizade Colorida” é mais uma comédia romântica de Hollywood que retrata indivíduos cujo sucesso, fortuna, beleza e sofisticação não satisfazem uma necessidade profundamente humana, talvez essencial, pronta para se converter naquele sentimento tão intimidante quanto irresistível que justifica a esperança que ainda depositamos na humanidade.
Will Gluck retorna à temática que explorou anteriormente em “Pelas Garotas e Pela Glória” (2009), aprimorando os conflitos e examinando minuciosamente a relação aparentemente equilibrada de dois adultos autoconfiantes, até que sinais inesperados surgem: mãos suadas sem motivo aparente, corações acelerados e um mundo que se transforma em uma montanha-russa de sensações imprevisíveis, mas sempre reveladoras, das quais ninguém emerge ileso.
Jamie, uma recrutadora em Nova York, gerencia todos os aspectos de sua vida com a eficiência que sua carreira exige. Ao conhecer Dylan, um renomado diretor de arte que ganhou destaque graças a um site onde opina sobre moda para diversas ocasiões, ela enxerga nele uma oportunidade clara de impulsionar sua trajetória profissional, apostando alto em uma renovação estética da revista cujo desempenho financeiro a deixa um tanto inquieta. As sutilezas do roteiro de Gluck e seus colaboradores são, sem dúvida, o ponto alto, explorando as nuances da personalidade do casal protagonista. Mila Kunis confere à sua personagem uma assertividade profissional geralmente atribuída a homens, equilibrada pelo romantismo discreto do personagem de Justin Timberlake.
Ambos se dedicam intensamente a dar vida a essas figuras singulares. O diretor continua a desafiar os papéis tradicionais, transformando Kunis em uma sedutora que deixaria muitos homens admirados; Timberlake, por sua vez, não se rende imediatamente aos encantos dela, como se antecipasse onde tudo aquilo poderia levar. As negociações para a possível contratação de Dylan se prolongam, eles jantam repetidas vezes, e inesperadamente (ou talvez não?), acabam juntos, em uma sequência magistralmente escrita que os atores interpretam com grande habilidade.
O elenco de apoio, composto por talentos como Richard Jenkins no papel do senhor Harper, pai de Dylan; Patricia Clarkson como Lorna, mãe da irreverente Jamie; e, especialmente, Woody Harrelson interpretando Tommy, o extravagante editor de esportes que se torna o confidente do colega recém-enamorado, adiciona profundidade a uma narrativa sobre um tema tão antigo quanto a própria existência humana, e sempre relevante enquanto houver pessoas. E as pessoas, por natureza, tendem a surpreender.
Filme: Amizade Colorida
Direção: Will Gluck
Ano: 2011
Gêneros: Romance/Comédia
Nota: 8/10