Com 92% de aprovação da crítica no Rotten Tomatoes, terror é considerado um dos melhores dos últimos 3 anos, na Netflix

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“Noites Brutais” é uma produção intrigante, escrita e dirigida por Zach Cregger, que, apesar de não ser uma adaptação literária, foi inspirado pelo livro “The Gift of Fear: Survival Signals That Protect Us from Violence”, de Gavin de Becker. Esse best-seller oferece às pessoas, especialmente mulheres, adolescentes e crianças, a capacidade de identificar e reagir a sinais de perigo iminente. A obra despertou em Cregger a vontade de criar um curta-metragem em que uma personagem feminina ignorava esses sinais, uma premissa simples que se transformaria, mais tarde, em um longa-metragem complexo.

Mesmo enfrentando rejeições de grandes produtoras, incluindo a renomada A24, Cregger conseguiu financiamento da 20th Century Fox para realizar seu projeto com um orçamento de 4,5 milhões de dólares — relativamente baixo para os padrões de Hollywood. Entretanto, “Noites Brutais” superou as expectativas, arrecadando dez vezes esse valor nas bilheteiras e conquistando elogios da crítica. Embora à primeira vista o filme pareça seguir uma fórmula de terror tradicional, seu enredo se desdobra de maneira inesperada, colocando os homens como as verdadeiras ameaças e as mulheres como sobreviventes em um mundo hostil.

A trama é protagonizada por Tess (Georgina Campbell), que chega a Brightmoor, Detroit, para uma entrevista de emprego. O cenário que a recebe é um bairro desolado, marcado pela decadência, e a tensão aumenta quando ela descobre que sua hospedagem, alugada pelo Airbnb, foi ocupada por outra pessoa. Sem respostas dos responsáveis pela reserva e sem chaves para entrar, Tess percebe uma luz acesa dentro da casa e, ao bater à porta, conhece Keith (Bill Skarsgård). Relutante no início, Tess cede e aceita dividir o quarto com o estranho, cujo comportamento, aos poucos, vai dissolvendo suas suspeitas iniciais.

No entanto, a situação logo toma um rumo sinistro. Naquela mesma noite, a porta do quarto de Tess se abre sozinha, e sons perturbadores ecoam pela casa. Keith, deitado no sofá, parece estar tendo um pesadelo, mas, ao acordá-lo, ambos se assustam, sugerindo que o perigo não está apenas na presença desse homem desconhecido, mas em algo mais sombrio escondido naquele local.

No dia seguinte, o cenário à volta de Tess torna-se ainda mais ameaçador. O bairro está repleto de casas abandonadas, marcadas por pichações e destruição. Ainda assim, ela permanece na hospedagem, talvez atraída pelo carisma de Keith, ainda que seu instinto de autopreservação esteja em alerta constante.

A narrativa atinge seu ponto de virada quando Tess, explorando o porão da casa, faz uma descoberta inquietante: um quarto improvisado, com uma cama suja e uma câmera antiga. Antes que ela possa reagir, a porta do porão se tranca, deixando-a presa até que Keith chegue para resgatá-la. Assustada com o que viu, Tess compartilha suas descobertas com Keith, que decide investigar por conta própria — e logo desaparece nos recônditos escuros da casa.

A partir desse momento, o filme mergulha em um labirinto de terror, revelando segredos macabros escondidos atrás de portas trancadas e corredores claustrofóbicos. Tess, desesperada para ajudar Keith, enfrenta seus próprios medos e adentra mais profundamente os mistérios do imóvel, mesmo sabendo que cada passo pode levá-la a um destino aterrador.

Paralelamente, somos apresentados a AJ (Justin Long), o dono da casa, um artista com sua carreira em declínio após ser acusado de assédio sexual. Retornando ao imóvel, ele se depara com os pertences de Tess e Keith, intocados por semanas, mas opta por ignorar o estranho desaparecimento. Curioso e inconsequente, AJ também é atraído para o porão e descobre, da maneira mais brutal, os horrores que a casa esconde.

O verdadeiro antagonista de “Noites Brutais” surge então: uma mulher deformada, mentalmente instável, que habita o porão e tem um único desejo — cuidar de alguém, preenchendo o vazio de sua existência com uma maternidade macabra. O filme, em sua fase final, explora a trágica história dessa figura monstruosa, desvendando como ela se tornou o que é.

Embora a execução de “Noites Brutais” possa não ser perfeita, especialmente em suas nuances mais complexas, o roteiro de Cregger tem um potencial notável. A atmosfera opressiva e os momentos de pura tensão mantêm o espectador preso à narrativa, enquanto as entrelinhas oferecem reflexões contundentes sobre o medo, a violência e as ameaças constantes enfrentadas pelas mulheres. “Noites Brutais” não é apenas um filme de terror; é um espelho perturbador da sociedade e de suas dinâmicas de poder, onde o perigo, muitas vezes, vem de onde menos se espera.


Filme: Noites Brutais
Direção: Zach Cregger
Ano: 2022
Gênero: Terror/Mistério/Suspense
Nota: 8/10